Dentro da agenda de transição energética, o Brasil ocupa lugar de destaque, principalmente em relação à energia renovável, já que quase 90% da matriz elétrica do país vem desse tipo de fonte – enquanto a média mundial é de 28%.
Posto esse cenário, a PwC Brasil elencou quatro caminhos para guiar uma transição energética estruturada.
Antes de explorar esses direcionamentos, é preciso considerar a previsão de aumento de demanda.
Segundo a PwC, a demanda global por energia deve aumentar em até 1% ao ano e, até 2050, é previsto um crescimento de até 20% em relação a 2021.
Cerca de 80% da demanda de energia primária é atendida por moléculas provenientes de hidrocarbonetos, como petróleo, gás e carvão.
Os 20% restantes são fornecidos por elétrons, ou seja, o próprio setor elétrico.
Nesse tabuleiro de números, é importante considerar ainda que o consumo de energia representa quase 73% das emissões totais de gases de efeito estufa.
No Brasil, embora a matriz elétrica seja substancialmente limpa, segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), 39% do consumo final de energia em 2023 foi proveniente do petróleo e seus derivados e 7% da lenha consumida.
Analisando a produção primária de energia, 60% da energia produzida em 2023 veio de fontes não renováveis.
Os principais setores com alta emissão de carbono continuam sendo o de transportes, cimento, ferro-gusa e aço, ferroligas, químico e cerâmica.
Ao contemplar esses números e o cenário de oportunidades para a transição energética dentro e fora do Brasil, percebe-se que há uma possibilidade maior de exploração dos recursos renováveis e menos poluentes.
Para que a transição aconteça de forma responsável, já há inclusive cálculos.
Atingir as metas mundiais de transição varia de US$ 4 trilhões a US$ 6 trilhões por ano, conforme a Agência Internacional de Energia e o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).
Busca por eficiência
Considerando o cenário de aumento de demanda, uma primeira recomendação é dissociar o crescimento econômico e a atividade produtiva da produção de energia.
É sugerido produzir a mesma quantidade, ou mais, de bens e serviços usando menos energia – a chamada eficiência energética.
A reflexão é importante tendo em vista a desproporcionalidade do consumo global de energia.
Por exemplo, América do Norte e Europa compreendem 15% da população global e respondem por 31% do consumo mundial de energia.
“Trazendo para nossa realidade nacional, a busca pela eficiência passa por alguns elementos que são necessários de serem incluídos nessa reflexão. Um dos aspectos a se considerar é a sobreoferta estrutural que temos, ou seja, há potencial para entregarmos mais com novas tecnologias e outras fontes de energia, como a eólica, por exemplo, amparados, claro, por uma legislação que seja propositiva nessa direção”, analisa Adriano Correia, sócio e líder de energia e serviços de utilidade pública da PwC Brasil.
Considerar alternativas
Outro caminho é o de impulsionar opções de energia elétrica.
Para a PwC, o mundo deve ampliar de forma bastante considerável o fornecimento de eletricidade livre de carbono nas próximas décadas.
Será preciso aumentar, de forma equivalente, essa demanda para eletrificação de produtos e serviços que costumavam depender de hidrocarbonetos.
“Esse esforço engloba uma série de ações, como dirigir veículos elétricos em vez de carros e caminhões com motores de combustão. No Brasil, esse movimento ainda é lento por características regionais, mas segue em curso. A expectativa é chegarmos a um break even em 2030”, comenta Correia.
Descarbonização
A firma ainda indica que é preciso descarbonizar a cadeia consumidora de hidrocarbonetos por alternativas ecológicas.
A transição para matérias-primas de base biológica, como substituir plásticos por embalagens de base orgânica, pode desempenhar um papel importante.
“As empresas estão tomando medidas para criar cadeias de suprimentos para setores difíceis de descarbonizar e que podem servir de inspiração. Na Suécia, há uma iniciativa para construir uma usina de aço verde que terá capacidade produtiva de cinco megatoneladas de aço anualmente até 2030”, exemplifica Adriano Correia.
Autarquia para políticas de transição
Como quarto passo, a PwC sugere uma espécie de “banco central”, que defina políticas independentes sobre problemas ou objetivos de curto prazo, com o objetivo de garantir uma transição estruturada para assegurar um fornecimento de energia confiável e, ao mesmo tempo, incentivar o progresso rumo ao net-zero.
Essa iniciativa poderia ser desenvolvida nas instituições multilaterais existentes para apoiar países para que eles passem da ambição política à execução, o que garantiria que o custo do carbono dentro do sistema permanecesse em sintonia com os objetivos gerais.
“O Brasil tem grande potencial para ser protagonista e desenvolver projetos variados, entre eles o de hidrogênio verde, por exemplo. O custo é altamente competitivo devido à capacidade eólica e à incidência solar significativas no país. Ou seja, há mercado, mas as empresas do Brasil precisam se organizar para tirar dessa oportunidade os melhores resultados”, analisa o sócio da PwC Brasil.