Um tema que vem sendo amplamente discutido atualmente é a capacidade de uma rede elétrica sofrer uma perturbação e se recuperar rapidamente, ou seja, ser resiliente frente às adversidades operacionais.
Tais atividades estão fortemente relacionadas à ocorrência de eventos extremos meteorológicos, visto que são fenômenos com grande parcela na causa de interrupções forçadas por longos períodos de tempo, quedas de torres e até destruição de habitações.
Em vista disso, cada vez mais as empresas do setor de energia realizam estudos relacionados a ocorrência destes eventos extremos com o objetivo de melhorar os investimentos na resiliência da rede, manter a excelência no fornecimento de energia para a população em geral e reduzir de maneira geral os custos de manutenção.
De acordo com o país considerado, o conceito de resiliência é tratado de forma diferente, porém, de maneira geral este tratamento gira em função da rede elétrica sofrer uma perturbação e recuperar seu total funcionamento.
Na figura 1, pode ser visto o trapézio de resiliência de acordo com o trabalho de BIE et al. (2017).
De acordo com o autor, a resiliência está na capacidade da rede elétrica de antecipar, resistir, absorver, responder e se adaptar para a melhor recuperação possível da perturbação causada pelo evento de alto impacto, seja ele meteorológico ou não.
Desta maneira, é importante observar que um sistema resiliente sofre um menor impacto, possui uma recuperação mais rápida e um funcionamento mais eficiente posterior ao final do evento.
Porém, é importante mencionar ainda que mesmo após o final do evento, o funcionamento da rede não volta ao seu estado original devido a problemas de infraestrutura que persistem após a recuperação da rede.
Os estudos de resiliência realizam um levantamento dos principais fatores que possuem potencial de causar algum tipo de dano à estrutura da rede elétrica.
Neste contexto, podemos destacar os eventos de alto impacto e baixa frequência, ou seja, eventos que são raros e não planejados, mas quando acontecem são capazes de causar danos generalizados ou até catastróficos.
Além disso, estes eventos podem acontecer muito rapidamente e atingir sua intensidade máxima com pouca sinalização prévia de risco iminente.
Desta maneira, estudos de identificação dos principais eventos que causam danos à rede são importantes para que a empresa conheça estas causas e comece a planejar como se preparar para a ocorrência futura destes eventos.
A partir deste planejamento e com uma estratégia efetiva, a empresa começa a se tornar mais resiliente.
Como exemplo de eventos de alto impacto e baixa frequência podemos citar a ocorrência de micro explosões atmosféricas, ciclones extratropicais explosivos, tempestades intensas, entre outros.
Um caso significativo foi o que aconteceu no dia 30 de junho de 2020 no Sul do Brasil, onde um ciclone extratropical intenso se formou sobre a região e fez com que mais de 4 milhões de unidades consumidoras tivessem sua energia interrompida nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, foram necessários vários dias para a recomposição total do sistema.
E aqui ficam duas perguntas, quando este tipo de evento poderá ocorrer novamente? Como será o comportamento destes eventos frente às mudanças climáticas?
De acordo com o último relatório do Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC), lançado em agosto de 2021, os cenários futuros indicam que os eventos meteorológicos extremos deverão ser cada vez mais comuns em decorrência do aquecimento global e consequentemente das mudanças climáticas.
Desta maneira, é importante que os estudos de resiliência das redes levem em consideração os eventos extremos meteorológicos, tanto do ponto de vista histórico como de projeções futuras.
Assim, avaliando os riscos atuais associado a eventos meteorológicos, os períodos de retorno dos eventos e também o impacto das mudanças climáticas do ponto de vista local. Desta forma, é possível antecipar e se preparar adequadamente para os futuros eventos.
De maneira geral, quando se entende os impactos causados pelos eventos citados anteriormente e também onde tais eventos ocorrem com maior frequência, é possível lidar adequadamente com os riscos físicos e financeiros que ocorrem devido a incerteza do tempo e do clima.
Com isso é possível fazer investimentos com maior custo benefício, gerar uma redução de custos com manutenção da rede elétrica e garantir uma maior qualidade no fornecimento de energia.
Referências
Masson-Delmotte, V., P. Zhai, A. Pirani, S. L. Connors, C. Péan, S. Berger, N. Caud, Y. Chen, L. Goldfarb, M. I. Gomis, M. Huang, K. Leitzell, E. Lonnoy, J.B.R. Matthews, T. K. Maycock, T. Waterfield, O. Yelekçi, R. Yu and B. Zhou. IPCC, 2021: Summary for Policymakers. In: Climate Change 2021: The Physical Science Basis. Contribution of Working Group I to the Sixth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge University Press. In Press.
BIE, Z.; LIN, Y.; LI, G.; LI, F. Battling the extreme: A study on the power system resilience. Proceedings of the IEEE, v. 105, n. 7, p. 1253-1266, 2017.