Em 2021, os países da União Europeia importaram cerca de 155 bilhões de metros cúbicos de gás natural da Rússia, o que supriu 40% do consumo total de gás da Europa. A invasão da Ucrânia pela Rússia abalou os lentos esforços da Europa para se livrar do gás natural russo e o conflito está trazendo inúmeros desafios econômicos para os países ao redor do mundo, mas principalmente à Europa que é muito dependente do gás natural.
A Finlândia tem 94% do abastecimento de gás natural de origem russa. Outros países de maior influência política na Europa como Alemanha e Itália também irão sofrer caso haja o rompimento da linha de distribuição de gás natural pela Rússia.
A Alemanha tem 49% de sua reserva de gás natural distribuída pela Rússia. Atualmente, o primeiro gasoduto Nord Stream, que está em operação, transporta 55 bilhões de metros cúbicos de gás anualmente, usados principalmente na Alemanha.
A escassez de suprimentos globais e a gigantesca onda de inflação que afeta o mundo deixaram os governos europeus “entre a cruz e a espada”, segundo especialistas nesta área, especialmente a Alemanha, que tomou a decisão de reduzir suas fontes de energia nuclear.
Para Ángel Saz-Carranza, diretor do Centro de Economia Global e Geopolítica da escola espanhola de negócios Esade e professor visitante da Georgetown University, nos Estados Unidos, o gás russo é o calcanhar de Aquiles da Europa nesta guerra, essa é a sua grande vulnerabilidade, é isso que permite à Rússia capitalizar e financiar esse aventura.
A crise da energia não está acontecendo por conta da guerra, ela perdura há anos e mostra a necessidade da Europa de investir em energias renováveis e limpas. A comissária da União Europeia para Serviços Financeiros, Mairead McGuinness, afirmou, no ano passado, que a crise energética na Europa deixa evidente a necessidade de aumentar os investimentos em produção de energia renovável.
Segundo McGuinness, o aumento dos preços de energia é resultado de vários fatores relacionados à oferta e à demanda. Ela disse também que é necessário fornecer suporte para a população pobre, mais vulnerável à alta no custo da eletricidade. No entanto, a comissária defendeu que a UE precisa, ao mesmo tempo, manter o foco em suas metas climáticas.
Se a Europa tivesse investindo tanto em energia renovável conforme prometeu no acordo de Paris, hoje não estaria tão dependente da Rússia e não estaria sofrendo por conta dos altos preços do gás natural.
As fontes de energia limpa são essenciais para diversificar a matriz energética das nações, diminuindo o risco de desabastecimento. O raciocínio é simples: quanto mais dependente de um único recurso — como os combustíveis fósseis -, maiores as chances de um território sofrer com os temidos “apagões”, sendo obrigado a recorrer a opções caras para gerar eletricidade, exatamente o que vemos acontecer agora ao redor do mundo.
Importância da energia limpa
A importância das fontes limpas está no seu potencial para substituir os combustíveis fósseis, que têm lançado toneladas de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera desde o século 20, provocando o aumento da temperatura terrestre.
Necessários para gerar energia de forma convencional, os processos de queima desses combustíveis têm o CO2 como um de seus produtos, contribuindo para o aquecimento global.
Esse fenômeno descreve a elevação progressiva da temperatura média da atmosfera e dos oceanos, causada pelo efeito estufa. Em resumo, o efeito estufa é o que retém o calor necessário para que diferentes espécies sobrevivam na Terra, impedindo que a superfície perca calor para o universo. Ou seja, trata-se de um fenômeno natural e necessário para a vida, mas que se intensificou muito devido à interferência humana.
Em busca de recursos para aumentar o conforto e a eficiência de uma série de processos, temos explorado a natureza em ritmo desenfreado, com práticas destrutivas como o desmatamento e a liberação massiva de GEE (gases do efeito estufa, a exemplo do CO2).
Para se ter uma ideia, especialistas estimam que a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera se elevou em 35% desde a Revolução Industrial. A implementação de medidas de adaptação, contudo, ainda é insuficiente diante da magnitude dos impactos das mudanças climáticas que já têm sido observados em todas as regiões habitáveis do planeta e que podem se agravar em um cenário de aquecimento global acima de 1,5 ºC dos níveis pré-industriais, segundo o 6º Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC),
Como consequência, vamos presenciar cada vez mais o derretimento da calota polar, aumento do nível do mar, extinção de espécimes da flora e fauna, degradação dos recursos naturais e graves impactos sobre a saúde das pessoas.
Por isso, é urgente a adoção de medidas sólidas, como a troca de combustíveis fósseis por fontes renováveis de energia.
*Artigo escrito por Viviane Cabral, CEO da Zinng