Um número crescente de governos vem adotando estratégias e metas de hidrogênio sustentável. Portugal, por exemplo, anunciou a política de hidrogênio renovável e incluiu na discussão o plano de injeção de gases renováveis na rede em 1% do volume.
O processo de leilão está sendo desenhado para o segundo semestre de 2023 e tem o biometano e o hidrogênio sustentável como opções para formação do blend (mistura da composição dos gases) com o gás natural.
No Brasil, temos como atos relevantes a tramitação do PL 1878/2022, projeto de lei tem o objetivo de criar a Política Nacional do Hidrogênio Verde (H2V), com diretrizes claras sobre a produção, utilização, transporte, armazenamento e comércio deste recurso, de autoria do Comissão de Meio Ambiente.
Assim como o PL 725/2022 (Lei do Hidrogênio), de autoria do atual presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, que tem o objetivo de promover o uso do hidrogênio. O mesmo estabelece nas redes de transporte de gás nos percentuais de 5% de injeção de hidrogênio, sendo 60% deste hidrogênio verde a partir de 2032, e 10% de injeção de hidrogênio, sendo 80% deste hidrogênio verde a partir de 2050.
A Lei do Gás e seu decreto regulamentador estabeleceram que os “gases intercambiáveis” com o gás natural, como hidrogênio e biometano, terão tratamento regulatório equivalente ao mesmo. Assim a tendência de substituição do gás natural por outros tipos de combustíveis gasosos sustentáveis tende a ser um processo gradual.
Portanto uma estratégia para a descarbonização da indústria de gás natural é misturar gradualmente gases sustentáveis, como biometano, hidrogênio verde e gás sintético renovável, nas redes de gás natural existentes, formando assim um “blend” de gás.
O biometano é um biocombustível gasoso constituído essencialmente de metano, derivado da purificação do biogás (gás originário da digestão anaeróbica de material orgânico), que atende às especificações estabelecidas pelas resoluções vigentes da ANP, conforme Resoluções ANP nº 886, de 29 de setembro de 2022 e nº 906, de 18 de novembro de 2022.
A expectativa é que o setor de biometano continue crescendo nos próximos anos. Um levantamento realizado pela ABiogás mostrou que 41 novas plantas devem ser construídas até 2027, o que aumentará a capacidade de produção em cerca de 2,9 milhões de m³ por dia.
Essa expansão tem o potencial de gerar emprego e renda em diversas regiões do país, de ampliar opções de descarbonização para diversos setores, além de movimentar um investimento estimado de R$ 7,4 bilhões.
Já a produção de hidrogênio sustentável a partir da energia elétrica renovável, por meio da reforma do gás natural, do etanol e do biometano com a captura e estocagem subterrânea de carbono (CCS), representa uma alternativa importante para descarbonização da cadeia do gás.
Neste contexto, podemos incluir os inúmeros projetos em estudo para produção de hidrogênio verde a partir da eletricidade renovável. Temos um enorme potencial para produção de biometano e de hidrogênio sustentável.
No Brasil, as distribuidoras de gás canalizado têm discutido e efetuado chamadas públicas para aquisição de biometano e começam a ter sucesso nas negociações de compra para injeção no sistema de redes de gás, a exemplo do que ocorre no Ceará desde 2017.
Companhias de energia também têm financiado os Projetos de P&D + I se proliferam com as oportunidades e memorandos de entendimento, dentre as discussões as opções de logística de transporte por gasodutos tem ganhado espaço.
No caso do hidrogênio sustentável, as discussões têm avançado e a forma de logística de armazenamento e transporte de hidrogênio gasoso, sobretudo alternativas como hidrogênio líquido, metanol e sob forma de amônia, têm apresentado vantagens e desvantagens.
Entretanto podemos afirmar que o desenvolvimento de redes dedicadas ou aproveitamento de redes de gás natural transportando de forma conjunta o gás em forma de blend tendem a ser adotadas de forma imediata a depender da caracterização do projeto e sua adaptabilidade.
Questões, como segurança envolvendo vazamentos, também estão em plena avaliação em grupos de trabalho dos agentes, como por exemplo ABNT, ANP, EPE e MME.
Isso devido ao fato hidrogênio conter mais energia por unidade de massa, ser mais leve, ser a menor molécula existente, ter uma densidade de energia mais baixa por unidade de volume e ser mais permeável que o gás natural, em muitos materiais poliméricos dificultar sua contenção em dutos, aumentando o risco de vazamentos.
É nosso dever como sociedade debater, regulamentar e fomentar o uso dos gases na transição energética justa e segura com perspectivas de diversificação das fontes de gases sustentáveis. Adicionando, a discussão sobre a descarbonização com segurança energética sobre a parcela da matriz de energia movida a gás natural, que passa como descrito acima, por ações ESG e desenvolvimento das outras fontes como o biogás, biometano e hidrogênio sustentável, com muita pesquisa e desenvolvimento. Assim o futuro com hidrogênio sustentável e biometano nas redes de gás canalizado será uma realidade, a depender do esforço e sobretudo da necessidade do nosso mercado.
Referência
Rosa, G., Almeida, E. (2022). As Redes de gás e a transição energética: o que esperar para o futuro?. Ensaio Energético, 24 de outubro, 2022. Disponível em https://ensaioenergetico.com.br/as-redes-de-gas-e-a-transicao-energetica-o-que-esperar-para-o-futuro/
https://www.gov.br/mme/pt-br/programa-nacional-do-hidrogenio-1
https://www.congressonacional.leg.br/materias/materias-bicamerais/-/ver/pl-725-2022
https://www.iea.org/reports/hydrogen