Heloísa Borges, da EPE, ressalta a importância de abraçar a pluralidade de pessoas existentes na Energia

 “Existem estudos há anos que demonstram uma associação entre a cultura igualitária e inclusiva com o fortalecimento da inovação das instituições. Mas estão começando a perceber isso só agora.”

Desde sua graduação, Heloísa Borges demonstrava interesse na área de energia. Conseguiu realizar, simultaneamente, as faculdades de Direito e Ciências Econômicas, e buscou se especializar em disciplinas ligadas a indústrias de energia e regulação setorial. 

O interesse persistiu durante o mestrado, especialização e doutorado, resultando em uma competência técnica forte para sua vida profissional.

Como resultado, em 2020, após passar por grandes instituições, como Furnas Centrais Elétricas e Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Heloísa se tornou a primeira mulher a ocupar uma posição de diretoria na Empresa de Pesquisa Energética (EPE) ao atuar com Estudos do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis. 

É equivocado dizer que foi uma trajetória fácil ou que não é válido reconhecer o esforço envolvido no processo, uma vez que a gestora é praticamente excessão em um ambiente tão masculinizado. 

“A diferença de participação de homens e mulheres no setor de energia é mais de duas vezes maior do que no restante da economia. Além das mulheres representarem menos de 10% dos cargos de liderança do setor, recebemos remunerações quase 20% mais baixas do que homens que exercem a mesma função.”

O que tranquiliza Heloísa é que o mundo percebe, cada vez mais, que os padrões precisam ser quebrados e é importante abraçar toda a pluralidade de pessoas existentes, tanto dentro das empresas, quanto no momento da contratação.

 “Existem estudos há anos que demonstram uma associação entre a cultura igualitária e inclusiva com o fortalecimento da inovação das instituições. Mas estão começando a perceber isso só agora.”

Entendimento, adaptação e necessidade

Um levantamento da Consultoria McKinsey indicou que companhias com alto índice de diversidade de gênero têm 15% mais chances de ter rendimentos acima da média e 21% mais chances de obter retornos financeiros acima da média. Ou seja, faz sentido para os negócios buscar tal diversidade. 

“A mudança é consolidada em números, mas nasce do que fomos ensinados a acreditar e do que vemos na prática. A realidade ainda mostra uma profunda disparidade de gênero, temos empresas e instituições com poucas, ou nenhuma, mulher na liderança e para mudar isso é necessário ir além do discurso e sermos inclusivos na vida real”, pontua a diretora.

Para que isso aconteça, Heloísa defende que três abordagens são necessárias: o entendimento da figura feminina, a adaptação de alguns cenários e a necessidade de políticas de diversidade e inclusão.

“É frequente que mulheres não se sentem nas mesas onde as decisões são tomadas ou sejam interrompidas ao falar. E precisamos rever todos os nossos vieses, pois características normalmente desejadas em líderes ganham conotações negativas quanto associadas à mulheres.”

Como exemplo, a diretora cita que “uma mulher assertiva é vista como histérica e uma mulher ambiciosa é tida como agressiva.

E vou além: existem diferentes tipos de liderança e não necessariamente o perfil típico de líder é o mais adequado – uma gestão feminina é mais associadas a empatia, resiliência e organização e funciona perfeitamente.”

Com relação à adaptação da realidade das colaboradoras, Heloísa cita a necessidade de começar pelo básico, que muitas vezes já restringe a participação de mulheres.

“Os uniformes e equipamentos de proteção não são pensados para mulheres e muitas vezes ficam inadequados nelas. Até pouco tempo, existiam plataformas de petróleo sem banheiros femininos, então como podemos ocupar um espaço que não se abre para nós?”, questiona.

A gestora acredita, inclusive, que as políticas de diversidade e inclusão são ótimas portas de abertura para o mercado de trabalho, inclusive através de programas de mentoria e o desenvolvimento de lideranças aninhados a uma política de sucessão.

“É um ciclo: quanto mais suporte é oferecido, mais mulheres conseguem se dedicar ao trabalho e os resultados virão rapidamente. Estudos indicam que expandir o acesso aos cuidados infantis, por exemplo, tende a aumentar a participação feminina na força de trabalho em certa de 1% inicialmente e dobrar e até cinco anos. É necessário enxergar a realidade de seus colaboradores para extrair o melhor deles.”

Moldada por grandes figuras

Quando analisa a importância de ter a presença feminina em posição de liderança, Heloísa ressalta o papel que isso representa na vida de outras mulheres, que muitas vezes não se enxergam no topo.

“Muitas vezes as profissionais são mais desafiadas do que os homens, a capacitação e cobrança por resultados são ainda maiores, e a falta de figuras femininas em destaque faz com que muitas desistam de determinado setor.”

Na lista de mulheres da energia brasileira que a inspiram, a diretora de Estudos do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis da EPE cita grandes nomes, como Elbia Gannoum, Fernanda Delgado, Symone Araújo, Ligia Schlitter, Marisete Pereira, Renata Isfer, entre outras mentes brilhantes que passaram por sua vida.

Heloísa também credita muito da pessoa que é hoje à sua mãe, que sempre se mostrou resiliente e foi a primeira pessoa a ter diploma de ensino superior e mestrado na família.

“Venho de uma família de mulheres muito fortes, cada uma de sua maneira, e isso me moldou muito desde a infância.”

Essa e outras matérias exclusivas fazem parte da edição 49 da revista Full Energy. Confira!

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