Durante discurso feito no Hydrogen Americas Summit, promovido agora em outubro de 2022 pelo governo dos EUA, em Washington, a secretária de energia americana Jennifer Granholm defendeu que os debates sobre os projetos de hidrogênio passem da questão das cores para as diferentes formas de produção, mais focadas na redução de emissão de gases de efeito estufa (GEE).
“It is not about colours; it is about cutting carbon pollution.” – É sobre cortar a poluição de carbono, defende.
A afirmação reflete o conteúdo do “Inflation Reduction Act”, medida do governo norte-americano que trabalha com previsões e condições de investimento na produção nacional de energia limpa.
O plano não traz o conceito de “hidrogênio verde” e sim “clean hydrogen”, ou hidrogênio limpo, resultado de um processo de produção com baixa emissão de CO2 (menos de 4 kg de CO2 por 1 kg de hidrogênio).
A definição dos atributos da Certificação do Hidrogênio é um debate mundial e também ocorre no Brasil, onde o tema é discutido pelo Grupo de Trabalho coordenado pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).
As conversas acontecem neste momento de mudança de entendimento sobre o que são fontes verdes, atualmente restritas a solar e eólica. Não é sobre cor, é sobre cortar emissões de carbono, lembra Jennifer Granholm.
Nesse contexto, o olhar mais abrangente é positivo para o país, onde mais de 60% da energia elétrica gerada é proveniente de usinas hidrelétricas de fontes renováveis.
A matriz elétrica mostra o quanto a participação do Brasil é relevante na produção de hidrogênio, o melhor substituto dos combustíveis fósseis – estes sim os maiores emissores.
Com a certificação , a CCEE ficaria responsável por atestar de quais usinas vêm o fornecimento de energia usado para a eletrólise do hidrogênio.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também deu a sua contribuição para o tema. Em agosto, a entidade publicou o estudo “Hidrogênio Sustentável: perspectivas e potencial para a Indústria Brasileira”, que qualifica as hidrelétricas como fonte de energia renovável para a produção do hidrogênio verde.
Na mesma linha de entendimento sobre a descarbonização, a Green Hydrogen Organization (GH2) não descarta a geração hidrelétrica em sua campanha “100 by 2030”.
A ação promovida pela ONG estimula a produção de pelo menos 100 milhões de toneladas de hidrogênio verde por ano até 2030, quantidade suficiente para cumprir os compromissos globais de zerar as emissões líquidas de GEE.
Sobre a meta global, o presidente-executivo da International Hydropower Association (IHA), Eddie Rich, diz que “o hidrogênio verde e a energia hidrelétrica sustentável precisam trabalhar juntos para que o planeta atinja as metas líquidas de zero emissões: 100 milhões de toneladas de hidrogênio verde por ano é uma fantasia sem energia hidrelétrica”.
Todos esses exemplos ratificam que estamos no caminho certo e ampliando cada vez mais o debate – e a prática – no compromisso de redução de emissões e atuar cada vez mais com alternativas viáveis e sustentáveis. Cada um fazendo a sua parte e o Brasil como um centro de expertise e potencial amplo para agir, agora.
** Erika Breyer é gerente de Regulação da SPIC Brasil. Ela é advogada com Master in Susteinable Developmet – Renewable Energy pela University College London, tem passagens profissionais pela EPE, Ibama e Chesf.