O economista Adriano Pires, escolhido pelo Governo Federal para substituir Joaquim Silva e Luna na presidência da Petrobras, defende — além da venda das refinarias da estatal — a privatização dos campos onshore com a autorização da atividade de fraturamento hidráulico (Fracking), para aumentar a produção de gás natural liquefeito no país, o que seria mais um golpe do governo do presidente Jair Bolsonaro para o meio ambiente.
Em artigo publicado no último dia 22, Pires escreve que o país precisa “olhar com mais cuidado e atenção para o gás natural” e insinua uma abertura para este tipo de exploração no país, quando fala sobre “o aumento da produção de gás nacional, através da privatização dos campos onshore, pela autorização da atividade de fraturamento hidráulico (fracking)”.
O fraturamento hidráulico é realizado por meio da injeção de água em alta quantidade e pressão, associada a mais de 400 produtos químicos e muita areia. Essa pressão provoca o fraturamento da rocha, permitindo que o gás natural armazenado seja recuperado pelas fissuras criadas.
Entre os principais impactos ambientais estão a contaminação da água e do solo, riscos de explosão com a liberação de gás metano, consumo excessivo de água, além do uso de substâncias químicas.
O coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, lembra que o fracking já foi proibido em outros países, inclusive.
“É inadmissível que tenhamos a possibilidade de uma atividade petrolífera utilizando essa tecnologia, que vai agredir ainda mais o nosso meio ambiente, trazendo prejuízos principalmente para o subsolo e os lençóis freáticos, colocando em risco o importante Sistema Aquífero Guarani”, destaca ele.
Se o Adriano Pires seguir com seus projetos, reforça o dirigente, tudo indica que o país sofrerá não só de aumentos constantes nos preços dos combustíveis, mas também de danos ambientais graves e irreversíveis.
Juliano Bueno de Araújo, especialista em Riscos e Emergências Ambientais, fundador do Movimento Não Fracking Brasil e do Instituto Arayara.org., visitou mais de 415 cidades do Brasil, entre 2015 e 2021, que aprovaram leis municipais que restringem o uso desta técnica em seus territórios. “O fracking oferece enormes riscos às águas subterrâneas e de superfície, à agricultura e pecuária, e especialmente à saúde humana”.
Já Henrique Jager, consultor da FUP e pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), observa que “estudos apontam, também, que o fraturamento hidráulico, ao destruir as camadas subterrâneas, pode provocar abalos sísmicos. Várias cidades norte-americanas sofrem as consequências da produção do shale gás por meio do fraturamento hidráulico. Tanto que a Califórnia já anunciou que banirá o fracking a partir de 2024”.
Adriano Pires também defende com veemência a continuidade do programa de desinvestimento da empresa alegando, principalmente, que a venda das refinarias diminuiria a dependência de importações de derivados e que os preços dos combustíveis subiriam menos, devido à concorrência. Mas pesquisa da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) mostra o contrário do que defende Pires.
O estudo da PUC-Rio, denominado “Competitividade no mercado de gasolina e diesel no Brasil: uma nova era?”, feito pelo Departamento de Engenharia Industrial do Centro Técnico Científico da universidade (CTC/PUC-Rio), mostra que a venda das refinarias à iniciativa privada cria monopólios regionais, aumentando os preços e também o risco de desabastecimento. E na prática, a venda da Refinaria Landulpho Alves (Rlam) para o fundo árabe Mubadala vem confirmando o estudo.
Deyvid Bacelar lembra que “hoje, a Bahia tem a gasolina mais cara do Brasil.
“Infelizmente, com a venda da Rlam e de todo o seu sistema logístico tivemos a comprovação na prática daquilo que denunciamos e alertamos desde 2016, sobre a criação de monopólio privado, provocando alta de preços e riscos de desabastecimento”.
Bacelar acrescenta que o governo federal e a gestão da Petrobrás “mentiram” ao dizer que a venda da refinaria criaria concorrência, baixa dos preços dos combustíveis e garantia do abastecimento interno.
“Está faltando óleo bunker (para navio) na Bahia; as distribuidoras e sindicatos patronais de distribuidoras de combustíveis reclamam hoje que não conseguem ter a compra garantida de derivados de petróleo na Acelen (empresa do grupo Mubadala que opera a refinaria privatizada), porque ela está exportando em detrimento do mercado nacional”, destaca Bacelar.