Desde a criação do Proálcool nos anos 1970, continuando com o lançamento dos motores flex há 20 anos, até a recente sanção da lei do “Combustível do Futuro”, o Brasil já percorreu um bom trecho da estrada que tem como meta a transição energética.
Em um contexto planetário, a substituição gradual do uso de combustíveis fósseis por renováveis é assunto bem encaminhado no Brasil.
Essa é a visão do economista, especialista em biocombustíveis e CEO da SCA Brasil, Martinho Seiiti Ono.
“Antigamente a gente escolhia o tipo de combustível do carro na concessionária. Hoje fazemos essa escolha quando abastecemos”, ressalta Ono, observando que mais de 80% da frota de veículos em circulação no país hoje permite essa escolha, algo inexistente em outros países.
O protagonismo brasileiro na produção de combustíveis renováveis, a capacidade agrícola do país e toda a tecnologia já desenvolvida nessa área mostram que o Brasil tem um potencial muito grande a ser explorado.
Ono aponta também outros avanços que podem vir a partir da nova Lei 14.993/2024, fazendo algumas projeções para o marco de 2032, quando a intenção da lei é dar sustentabilidade a todas as frentes contempladas no campo energético.
Para o executivo, é fundamental criar caminhos seguros para que todos os tipos de motor que hoje utilizam combustíveis fósseis possam ter acesso aos renováveis.
“Quanto aos veículos automotivos, o caminho já está em bom termo, sendo que pela nova lei, o aumento do percentual de etanol à gasolina, que hoje está na faixa dos 27% poderá chegar a 30% e até 35%. Para quem trabalha com o etanol, é uma grande vitória. Essa transição, entretanto, não é uma coisa automática”, observa.
Se no setor automotivo não há problemas com esse percentual de etanol acrescido à gasolina, é preciso pensar nas outras utilizações da gasolina como nos motores de popa, cortadores de grama e motosserras.
“Todas as entidades de classe que representam essas demandas precisam de testes de viabilidade, antes da mistura ser sancionada”, reflete.
“Quanto aos motores a diesel, o país ainda importa 25% do diesel que consome, mas a ideia é que o Brasil seja cada vez menos dependente desse combustível fóssil, valendo-se do biodiesel e do biometano, aplicando toda a nossa potencialidade de produzir combustíveis com menor pegada de carbono.”
Quanto ao SAF, o combustível sustentável para a aviação, há testes sendo realizados com diversos tipos de biocombustíveis, inclusive com óleo de cozinha, sempre visando a redução da pegada de carbono em âmbito mundial.
O setor de transportes aéreos tem mostrado comprometimento com a adoção de um caminho evolutivo de consumo de biocombustível. É mais uma área em que Ono vê grande potencial para o Brasil se destacar.
No radar da Lei do Combustível do Futuro, a emissão de CO2 tem no ano de 2032 um marco denominado “do poço à roda”, onde a medição dos impactos será contemplada.
Após essa data, o conceito ganha abrangência, contemplando toda a cadeia de consumo, desde a produção até o descarte de tudo que foi usado em relação ao uso de combustíveis e com vistas à sustentabilidade.
Ono conclui afirmando que a Lei do Combustível do Futuro está ‘casada’ com outro programa, o ‘Mover’, cujo objetivo é produzir veículos de baixa emissão de CO2 e com maior eficiência energética.
“Tudo isso dá muita segurança e previsibilidade para os investimentos, sejam os nacionais ou internacionais, com segurança jurídica que nos possibilite deixar um mundo melhor para as novas gerações”, conclui.