No meu primeiro artigo para a Full Energy, comentei sobre minha experiência na COP27 e o comovente discurso da Mia Mottley, Primeira-Ministra de Barbados, que pediu a reestruturação da arquitetura financeira climática à comunidade internacional, com foco no papel dos bancos multilaterais de desenvolvimento (BMDs).
São esses: o Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento, Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento, dentre outros, a depender de sua área regional de influência.
No ano passado, a Vice-Secretária Geral da ONU, Amina Mohammed, junto a Open Society Foundations, trouxe líderes do setor público, privado e filantrópico para discutir a revitalização do sistema financeiro de BMDs que, historicamente, opera ofertando dívidas para países em desenvolvimento.
Durante o encontro em Barbados, lançaram a Iniciativa Bridgetown visando revitalizar esse sistema financeiro, agenda que vem ganhando mais espaço e relevância ao longo do ano.
No início de março, participei de uma reunião do G20 em Nova Dalhi, Índia, e notei que um dos principais pontos trazidos pelos ministros de relações exteriores presentes era a reforma dos bancos multilaterais.
A primeira-ministra Mottley destaca em seu discurso que países desenvolvidos contraem dívidas a um custo de 1,4% ao ano, enquanto países em desenvolvimento pagam 11%.
Dessa forma, de acordo com o ClimaInfo, o custo de capital de um projeto de energia renovável financiado por um país desenvolvido seria de aproximadamente 4% e em países em desenvolvimento, certa de 15%.
Poucos são os projetos vistos como lucrativos e viáveis, além da falsa percepção de risco devido ao distanciamento entre analistas financeiros e a realidade local de muitos países em desenvolvimento.
Durante essa semana, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional estarão realizando suas reuniões anuais em Washington D.C., com a participação de ministros da fazenda do mundo todo, e um dos temas centrais será a reforma de BMDs.
A pandemia, somada à guerra na Ucrânia e à crise climática, demonstra que essas instituições financeiras precisam se adequar aos novos desafios globais e refletir sobre seus mecanismos financeiros para que não aprofundem as dívidas de países em desenvolvimento em prol de benefícios socioeconômicos e ambientais.
A pressão de governos vem crescendo e essa semana será importante para fomentar esses diálogos.
Mas o que isso representa para o setor energético? Dados do Energy Policy Tracker mostram que entre 2020-2021, os maiores BMDs se comprometeram com no mínimo 56 bilhões de dólares para o apoio de projetos de energia através de empréstimos, doações e garantias.
Esses investimentos são essenciais para apoiar governos com suas estratégias de mitigação e adaptação, bem como o desenvolvimento de projetos de infraestrutura e acesso a energia moderna, de baixo custo e para todos (ODS 7).
Não obstante, a comunidade internacional acredita que uma parte dos projetos financiados não está alinhada à uma narrativa de redução de emissões, outros ainda contribuem para o aumento de dívidas, e que a falta de dados dificulta análise mais aprofundadas.
Portanto, existe um grande potencial para uma transformação positiva, em direção a descarbonização do setor energético e a redução de mudanças climáticas.
A disponibilidade de capital de baixo custo, facilidade para mobilização de recursos em mercados internacionais, e o apoio que prestam à governos para a estruturação de projetos bancáveis, tornam os BMDs essenciais para a transição energética.
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Eduarda Zoghbi é cientista política pela Universidade de Brasília e mestre em administração pública e política energética pela Universidade de Columbia. Possui experiência profissional nas áreas de energia, mudança climática e gênero, tendo trabalhado em diversas organizações internacionais como: ONU, o Banco Mundial e o Banco Interamericano de Desenvolvimento. Eduarda já recebeu os prêmios REvolutionaries, Global Youth Visionary, Environmental Education 30 Under 30 e faz parte do programa Women Leaders in Energy Fellowship do Atlantic Council. Hoje está liderando a expansão do programa Women In Energy da Universidade de Columbia para o Brasil.