Como desbloquear a transição energética?, por Ricardo Pierozzi

As mudanças climáticas já estão afetando o mundo todo, com eventos extremos como secas, enchentes e incêndios florestais cada vez mais frequentes e devastadores.

Para combater essa crise, dentre várias ações, o mundo precisa rever a forma como produzimos e consumimos energia, fazendo a transição para fontes com menor emissão dos gases de efeito estufa.

Embora alguns países tenham feito movimentos encorajadores em direção à energia verde por meio da substituição por alternativas de baixo ou zero carbono, o uso de combustíveis fósseis ainda não está diminuindo.

Segundo o estudo global “Turbocharging the Energy Transition by Boosting Customer Demand: Shifting from Should to Want”, produzido pelo Boston Consulting Group (BCG), empresas e governos podem fazer progressos mais efetivos quando impulsionam a demanda do consumidor por produtos e serviços de energia limpa, tornando-os não apenas viáveis, mas também desejáveis.

Com base na avaliação de mais de 65 ofertas inovadoras relacionadas à energia de empresas e governos no mundo todo, a pesquisa revela que transições realizadas para atender os desejos dos consumidores podem ter rápido impacto positivo em três grandes setores: edifícios residenciais e comerciais (incluindo data centers), transporte (englobando veículos elétricos) e indústria (como a de fabricação de automóveis e bens duráveis).

Contudo, atualmente, apesar de 68% a 80% dos consumidores que participaram do levantamento do BCG expressarem preocupação com a sustentabilidade, somente 10% compram produtos sustentáveis e menos de 5% estão dispostos a pagar mais por eles.

Portanto, é importante que governos e empresas atuem em soluções equilibradas para promover os produtos de baixo carbono.

Como traçar o curso para a mudança orientada pela demanda

A força da demanda do consumidor brasileiro já impulsiona a transição energética em diversos setores no país.

Por exemplo, os carros flex conquistaram o mercado graças à opção de escolha entre etanol e gasolina, atendendo à demanda por economia e adaptação tecnológica dos veículos.

Pensando nisso, sugiro que as empresas adotem uma nova mentalidade, orientando-se por dados, se envolvendo com o governo para promover essa transição focada na demanda e criando um ciclo positivo de interações e experiências.

Ao invés de buscar um consumidor que pague um prêmio verde, investir em soluções que tenham um desconto verde.

Apesar do enorme desafio, é por onde se criam as soluções mais efetivas e sustentáveis.

E para os governos, nos diferentes níveis, também trabalhar no sentido de criar o ambiente regulatório certo para uma transição orientada pela necessidade do consumidor, focando em políticas positivas equilibradas e se concentrando nos facilitadores do progresso.

Tendo em mente a percepção pública, eles podem suavizar a jornada do cliente e fomentar indústrias e ecossistemas.

O fato é que a maioria dos consumidores se importa com a sustentabilidade, mas precisa de ofertas atraentes para traduzir seu comprometimento em ação massificada.

Atender a essa demanda pode mudar a trajetória do progresso no enfrentamento do desafio preeminente do nosso tempo.

 

*Artigo escrito por Ricardo Pierozzi, diretor executivo e sócio do Boston Consulting Group (BCG). 

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