Deputado federal Hugo Leal: “Transição é ser disruptivo e, na energia, não temos situações disruptivas”

O parlamentar já ocupou as cadeiras de secretário de Estado de Óleo, Gás e Energia e de Energia e Economia do Mar, ambas no estado do Rio de Janeiro.

O deputado federal Hugo Leal tem se destacado no Congresso Nacional no envolvimento de pautas referentes ao setor de energia.

O parlamentar, que já ocupou as cadeiras de secretário de Estado de Óleo, Gás e Energia e de Energia e Economia do Mar, ambas no estado do Rio de Janeiro, defende a ideia de investir em uma transformação energética e não em uma transição.

À Full Energy, Leal também fala sobre o projeto dos “combustíveis do futuro”, da indústria de óleo e gás e energia nuclear.

Hugo Leal lembra que, mesmo diante de tantos debates, devemos lembrar que consumidor final “não está querendo saber se a matriz é mais ou menos renovável, ele quer permanência e constância, porque quando a energia chega na sua casa, você não pergunta se ela é solar, se é eólica, se é de hidrelétrica, se é de termoelétrica. O preço sim.”

1- Como o sr. avalia a atuação do Congresso quanto à participação de medidas para a transição energética? 

Nós nos aprofundamos durante esse primeiro semestre na questão do hidrogênio verde.

Esse é um projeto que foi aprovado na Câmara e encontra-se no Senado.

Também votamos e aprovamos o projeto do marco legal das eólicas offshore, aprovamos e conduzimos uma regulamentação sobre a questão da energia solar, especialmente para famílias de baixa renda.

Nós discutimos também o combustível do futuro e também outras matérias como as concessões de energia elétrica e como elas podem estimular nas suas matrizes à utilização de alternativas de energia limpa.

Diante desse cenário, vemos que o Congresso, através das Comissões de Minas e Energia, da Câmara, e a de Infraestrutura, do Senado, tem feito a sua parte no aprofundamento e na complementação das matérias que estão sendo aprovadas ou avaliadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).

2- O sr. diz que prefere falar sobre transformação energética ao invés de transição energética. Na sua opinião, como está essa transformação no Brasil? 

Eu falo sempre em transformação energética, evolução energética e não em transição porque a transição diz que você tem que eliminar.

Transição você parte da ideia de ser disruptivo e, no caso da energia, não temos situações disruptivas.

Se assim fosse, nós não estaríamos usando ainda o carvão, a lenha e nem uma série de outros ativos que são de dois séculos passados.

Eles continuam sendo fontes de energia.

Por isso falo que essa é uma evolução energética, ampliação, democratização da possibilidade de transição energética.

3- Afora os debates políticos, também é preciso ter elementos necessários para a implementação dessas medidas para a transformação energética. Como você avalia esse cenário? Temos ferramentas para colocar essas ações políticas na prática?

Temos várias instituições públicas como a ANEEL, a Câmara de Planejamento Energético, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, vários institutos públicos e privados que contribuem para essa evolução com sugestões.

Há também o Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP), o Instituto Nacional de Energia Limpa (INEL), a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (ABRADEE), a Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (ABRACE), ou seja, instituições que colaboram com essas circunstâncias sendo não só um estímulo ao debate, mas passando efetivamente a trazer essa transformação energética.

4- A Câmara aprovou projeto dos “combustíveis do futuro”, proposta que prevê incentivo ao diesel verde e aumento da mistura de etanol à gasolina. Agora, o texto está no Senado. Quais são suas perspectivas em relação a esse projeto?

Levando em conta que o combustível do futuro é o incentivo ao diesel verde e ao aumento da mistura, eu fiz algumas ponderações, principalmente no aumento do biodiesel, a quantidade de biodiesel no diesel atual.

É preciso estudos científicos para determinar a quantidade de biodiesel no diesel.

Importante também que uma entidade independente possa avaliar os impactos que isso causa no motor, principalmente dos rejeitos, das sobras que acontecem desse biodiesel.

Mas eu acho que é um processo de evolução.

5- Nesse sentido, como o sr. avalia os avanços tecnológicos?

A tecnologia tem avançado cada vez mais e nós temos invariavelmente apostado nessa alternativa porque trata-se de uma das matrizes mais poluentes, que mais emite CO2, infelizmente é o transporte, são os veículos.

Esperamos que o combustível do futuro passe no Senado, o senador Veneziano é o relator da matéria, e seja devolvido mesmo que haja algumas modificações.

A Câmara está preparada para reavaliar esse ponto.

Diversificação na Energia

6- Como você vê o papel da indústria de óleo e gás no Brasil? 

Não vejo a interrupção dessa cadeia de óleo e gás exatamente pelo que significa o petróleo em toda cadeia de produção nacional.

Toda indústria nacional, de tudo, todos os componentes que nós temos.

A gente fica imaginando petróleo só como combustível, como gasolina, querosene, mas não, o petróleo é muito mais do que isso. Toda a indústria de polímeros, a maior parte da indústria que temos hoje de plásticos e de embalagens. Vários elementos contêm petróleo.

Temos que entender qual é a lógica dele. E ainda temos o gás natural. Hoje, eu sou um dos principais defensores do gás natural porque ele tem  uma pegada de carbono muito mais baixa que o diesel.

A utilização desse ativo, como é o caso do Rio de Janeiro, em frotas de táxi, carros de aplicativo, faz todo sentido, pois, além do processo econômico que faz nossa economia crescer, o gás natural também emite menos CO2.

O mesmo raciocínio vale para os veículos pesados.

7- E sobre a energia nuclear? Qual a sua posição sobre essa fonte dentro desse cenário?

A energia nuclear é um ativo que para entendê-lo é preciso compreender sua importância dentro do cenário energético.

O que eu costumo dizer sobre energia nuclear, as termelétricas, as hidrelétricas, as solares, e as eólicas onshore, todas elas são importantes na composição do que nós chamamos de pacote de ativos que a energia precisa para sobreviver.

Acontece que nós precisamos hoje de uma energia fidedigna, uma energia que tenha confiabilidade.

Essa energia de confiabilidade tem que ser um dispositivo que seja permanente, constante, efetivo e isso a hidrelétrica dá, mas as energias alternativas, como a solar e a eólica, não dão, porque elas têm períodos de produção.

Elas não têm uma característica intermitente e a energia nuclear, com as usinas de Angra 1 e Angra 2, tem essa característica de intermitência.

O custo dela é um pouco maior, mas também a capacidade é feita para século.

Uma usina nuclear é feita para 50, 60, 100 anos.

Ela pode permanecer exatamente porque esse ativo é importante e, obviamente, há um volume grande de investimento que depois são diluídos ao longo dos anos.

Mas o ativo principal dela é a constância, sem intermitências, ou seja, é ser uma energia com fidelidade, de confiança.

Isso é o grande diferencial e o Brasil precisa de todas as fontes, principalmente das mais confiáveis e permanentes, que é o caso da energia nuclear.

8- Como podemos traçar uma estratégia balanceada para promover uma transição energética segura, sustentável e acessível no país?

Uma estratégia balanceada é que cada um fique dentro do seu quadrado, como diz o ditado popular.

Não adianta colocar as energias renováveis, especialmente a eólica e a solar, numa linha de constância.

Elas têm períodos de pico e precisam ser distribuídas.

A geração distribuída (GD) e a microgeração distribuída, que é principalmente para residência, tem que ser voltada para um público que tem pouco acesso.

Hoje, quem tem acesso à GD são pessoas de alto poder aquisitivo que colocam para diminuir a sua conta de energia. Para mim, essa equação está equivocada.

Essa microgeração distribuída tem que ir para comunidades e locais onde a energia às vezes é furtada, onde há desvio ou onde as pessoas precisam ter compreensão e geração da sua própria energia.

9- Como o sr. vê a matriz energética no Brasil para os próximos 10 anos?

Vamos continuar convivendo com todas essas matrizes, mas cada uma tem que permanecer dentro de sua lógica.

Não adianta as empresas de energia elétrica investirem em grandes fazendas solares, produzindo energia para elas mesmas venderem com o mesmo produto, pois acho que isso acaba sendo uma situação inviável, apesar de energeticamente ser de uma matriz limpa, não produz efeito prático onde tem que ser atingido e, aí sim, elas podem investir em outros segmentos como as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH).

O que nós precisamos é manter as que nós já temos e ampliar para diversidade.

10-  Como você avalia o comportamento do consumidor diante de tantos debates sobre a nossa matriz energética?

Há uma pesquisa que está no site da ABRADEE e da ANEEL sobre o maior receio e o maior desejo dos consumidores na área de energia elétrica.

O primeiro aspecto que o consumidor deseja é que não falte energia, que não tenha oscilação.

O segundo é se a energia faltar que ela seja restabelecida o mais rápido possível e a terceira é que a energia tenha uma tarifa justa.

O consumidor está muito mais preocupado com a constância, a permanência e a fluidez da energia e, depois, se faltar o restabelecimento rápido.

Essas são nuances que nós temos que incorporar no nosso debate e entender qual é a nossa lógica.

Ele não está querendo saber se a matriz é mais ou menos renovável, ele quer permanência e constância, porque quando a energia chega na sua casa, você não pergunta se ela é solar, se é eólica, se é de hidrelétrica, se é de termoelétrica. O preço sim.

O que nós temos que fazer como Congresso Nacional é fiscalizar e apurar a questão do preço para, aí sim, chegar na casa do consumidor muito mais viável.

Mas nós temos que desmistificar: o primeiro ponto que o consumidor mais deseja é saber se a sua energia vai ser constante, não faltar energia e entregar uma energia que caiba no seu bolso.

*Matéria publicada na edição 51ª da Full Energy.

Clique aqui para ler a revista na íntegra. 

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