Elbia Gannoum, presidente Abeeólica: “Seremos cada vez mais renováveis”

Para a presidente Abeeólica, o futuro está nos parques híbridos, energia eólica offshore e utilização de hidrogênio para produção de energia

2021 foi o ano em que o país bateu recorde na safra dos ventos, chegando a abastecer todo o Nordeste durante todo um dia e a abastecer cerca de 20% do país (Sistema Interligado Nacional). A perspectiva é de terminar este ano com mais de 20 GWs de capacidade instalada.

“Temos um papel muito relevante quando avaliamos a energia eólica mundial. Entendo que a indústria e os grandes consumidores têm um papel muito importante, especialmente quando eles optam pelo consumo de fontes renováveis, fechando contratos no mercado livre direto com geradores ou por meio de comercializadoras”, defende Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica).

O movimento de grandes empresas que optam por consumir energia renovável é fundamental para incentivar outros players e, de acordo com Elbia, isso acaba por aumentar “o percentual de renováveis que ocupam a matriz por meio do mercado livre, num momento em que os leilões do mercado regulado são muito pequenos.”

A presidente da entidade aposta que o futuro está nos parques híbridos, armazenamento, energia eólica offshore e utilização de hidrogênio para produção de energia.

“Acredito que veremos as discussões sobre estes temas avançarem bastante, sendo que os parques híbridos estão mais perto da concretização e já mais avançados.”

Até 2026, Elbia afirma que o país deve ter cerca de 32 GW de capacidade instalada, considerando os contratos já assinados no mercado livre e no mercado regulado.

 Transformação energética

Para a presidente da Abeeólica, falar de transição energética, no caso do Brasil, é fácil. “Já temos uma matriz elétrica e energética com participação de renováveis acima da média mundial.”

No caso da elétrica, por exemplo, o Brasil tem 83% de renováveis, enquanto que a média global é de cerca de 25%. Na matriz energética, o país tem 46% e a média mundial está ao redor dos 15%.

“Seremos cada vez mais renováveis. Temos um dos melhores ventos do mundo para geração de energia eólica em terra, em alguns anos teremos eólicas offshore, nosso potencial solar é enorme, e temos outros aproveitamentos como a biomassa e as pequenas centrais hidrelétricas”, defende Elbia.

O desafio não é, para a presidente, gerenciar escassez de recursos naturais limpos, como é o caso de tantos países que precisaram investir bilhões em políticas de desenvolvimento de renováveis.

“Nosso desafio é gerenciar sua abundância para produção de energia, tirar de cada um deles o melhor possível, protegendo a natureza e trazendo retornos sociais e econômicos para a sociedade. Nossa responsabilidade, quando miramos o palco mundial das discussões sobre aquecimento global, é gigantesca. E eu estou falando apenas do recorte das fontes de energia. Se falarmos de florestas e de outros recursos naturais, a responsabilidade brasileira é ainda maior.”

E é exatamente por causa dessa abundância que é possível entender o processo de transição energética como uma oportunidade para a transformação energética. Para Elbia, em primeiro lugar, a matriz energética brasileira, já altamente renovável, conforme for se expandindo, vai comportar a participação crescente de renováveis, mudando o mix de recursos naturais utilizados para gerar energia.

“O peso das hidrelétricas, por exemplo, nosso grande recurso renovável, tende a ir diminuindo conforme crescem a eólica, solar, biomassa e, num futuro bem próximo, parques híbridos, novas tecnologias de armazenamento, eólica offshore, gás natural e hidrogênio. No caso da matriz energética, o uso de biocombustíveis vai fazendo esse caminho de renovabilidade, assim como a tendência de eletrificação de parte da frota.”

Em segundo lugar, a presidente da Abeeólica pontua o investimento em recursos naturais, de forma responsável, para gerar desenvolvimento econômico e social por meio da distribuição de renda, da inclusão e da diminuição das desigualdades econômicas e sociais. “É preciso dar esse pulo de raciocínio e ação: não basta gerar energia renovável que não emita CO2, é preciso que essa energia impacte positivamente a vida das pessoas. Aí começamos a falar de uma real transformação energética, da forma como eu a compreendo.”

Impactos Socioeconômicos

Os frutos de uma transformação energética são sentidos por toda a sociedade. Segundo Elbia, os parques eólicos quando chegam às regiões remotas do Brasil, especialmente no Nordeste, impactam positivamente comunidades por meio de empregos diretos e indiretos e geração de renda com os arrendamentos de terras dos pequenos proprietários.

Há também impactos de aumento de arrecadação de impostos que, com adequado gerenciamento público, podem significar melhorias para o município.

O desenvolvimento tecnológico que chega com as renováveis também significa um novo caminho de atuação profissional. Sobre isso, a Abeeólica publicou, em 2020, o estudo “Impactos Socioeconômicos e Ambientais da Geração de Energia Eólica no Brasil”, realizado pela consultoria GO Associados que quantificou os já conhecidos impactos positivos da energia eólica.

O trabalho analisa, por exemplo, os efeitos multiplicadores dos investimentos realizados pelas empresas, assim como o impacto dos valores pagos para arrendamentos de terras para colocação de aerogeradores.

O estudo também fez uma comparação entre um grupo de municípios que recebeu parques eólicos e outro que não tem energia eólica, para avaliar o impacto da chegada dos parques no Índice de Desenvolvimento Humano – IDHM e no PIB municipal. No que se refere ao IDHM e PIB municipal, as cidades que têm parques eólicos tiveram uma performance 20,19% e 21,15% melhor, respectivamente, para estes dois indicadores.

“Este é um resultado que mostra que não há dúvidas: a energia eólica chega e seus efeitos multiplicadores impactam nos indicadores do município. Esta nova energia tem a capacidade de modificar não apenas as matrizes elétricas e energéticas, o que já é algo espetacular e imprescindível; ela pode transformar também a sociedade de forma mais profunda, diminuindo desigualdades e contribuindo para que tenhamos um futuro melhor para deixar para as próximas gerações.”

A pesquisa também estimou os efeitos multiplicadores do pagamento de arrendamento.

“Este é um ponto importantíssimo do estudo, porque os arrendamentos são uma injeção de renda direta na região. Importante explicar que quando um pequeno proprietário arrenda um pedaço da sua terra para colocação de um aerogerador, ele pode continuar com suas plantações ou criação de gado. O pagamento de arrendamento se torna, então, um valor fixo para os proprietários que podem investir em sua própria terra e ampliar sua produção”, explica.

Esta reportagem foi publicada na 39ª edição da Full Energy. Clique aqui e confira.

 

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