Apenas 22,24% dos cargos de liderança do setor elétrico são ocupados por mulheres, segundo a pesquisa Mulheres no Setor Elétrico, promovida pela Agência Nacional de Energia Elétrica em 2023.
Tendo em vista que apenas 20,81% dos colaboradores em geral são do gênero feminino, é possível perceber que as mulheres realmente são minoria na matriz energética brasileira.
Na visão de Fernanda Delgado, CEO da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde (ABIHV), o cenário deveria ser diferente principalmente porque as mulheres representam 50% da população do planeta.
“Estatisticamente, o gênero feminino não é uma minoria, então é fundamental ter a representatividade em todas as escalas da vida. Precisamos ver mulheres no governo, na liderança de empresas, em altos postos acadêmicos, simplesmente porque é o mais justo.”
A pluralidade de opiniões e posicionamentos é algo essencial para a evolução do setor, na visão de Fernanda. “As mulheres trazem um olhar diferente a um mundo tomado por homens brancos, heteros, em sua maioria ricos e que não têm todas as respostas do mundo.
É necessário ouvir as vivências e pensamentos não só do gênero feminino, mas dos negros, indígenas, pessoas com deficiência, LGBTQIAP+ também. Quanto mais plural e diversa for a equipe e sua liderança, mas respostas teremos.”
Um estudo realizado pela Consultoria McKinsey indicou que empresas que possuem de fato uma diversidade de gênero têm 15% mais chances de ter rendimentos acima da média e 21% mais chances de conseguir retornos financeiros elevados.
Fernanda conclui que, a falta de mulheres em cargos de liderança faz com que empresas percam não só a oportunidade de fazer o correto, mas de ganhar dinheiro, que é algo que impacta diretamente os resultados das companhias.
Além da falta de oportunidades, a CEO da ABIHV compartilha a dificuldade de se lidar com um ambiente tão masculinizado e com inúmeros comentários inconvenientes.
“Eu sei que cada mulher lida com esse ambiente de uma forma, afinal algumas emulam o comportamento masculino, outras buscam causar desconforto ou sabem lidar melhor. Tenho mais de 20 anos de carreira e ainda sinto dificuldade com os comentários machistas, principalmente os que não são grosseiros, mas ofendem da mesma forma.”
A saída de Fernanda é levar as situações com bom humor para causar certo incômodo. Ao ouvir que está em uma reunião para enfeitar o ambiente, por exemplo, a gestora responde que na verdade compareceu para agregar conhecimento e inteligência, causar um tumulo às discussões.
“Já me falaram que a minha presença deixaria o ambiente mais leve e, no mesmo momento, respondi ‘Daqui a 10 minutos você me diz se eu deixei realmente tudo mais leve’, porque eu gosto de levantar debates, de ter um pouco de tumulto e de caos, não sou uma pessoa leve. Inclusive não proporciono discussões tranquilas, mas debates profundos e que trazem reflexão.”
No entanto, é importante que cada mulher encontre sua própria forma de lidar com o ambiente, pois o que funciona para uma pessoa pode não funcionar para outra.
Fernanda acredita que é necessário que cada colaboradora se conheça muito bem para conseguir se posicionar de forma adequada.
“Eu sei que lido de uma forma engraçada e meio caótica, mas minhas mentorandas sempre perguntam como devem se posicionar e é algo que eu não consigo ensinar. Para lidar com situações desconfortáveis é necessário encontrar a forma de trabalhar que vai te deixar mais confortável. Não podemos barrar nosso crescimento por limitações alheias.”
Desafios e incentivos
Ao analisar o cenário das mulheres no mercado de trabalho, Fernanda conclui que, infelizmente, os desafios são os mesmos há muitos anos.
“Existem alguns papeis que são comumente condicionados para a figura feminina, então é sempre a mulher que pensa no almoço antes de sair para trabalhar, que sente mais toda e qualquer questão relacionada a filhos, a sobrecarga do trabalho doméstico, entre outros pontos.”
A CEO da ABIHV acredita que é necessário realmente questionar qual a realidade daquela mulher e oferecer o acolhimento necessário.
“Ela busca os filhos na escola? Cuida de pais idosos? Lida com um marido doente? Como ela vai para o trabalho? É viável exigir mais dela do que se exigiria de um homem? Temos que ter um olhar mais sensível com relação às diferenças laborais entre as figuras masculinas e femininas.”
No entanto, Fernanda acredita que uma atenção especial das empresas seria essencial tanto para aumentar a participação feminina quanto para incluir esse público em grandes decisões.
“A abertura de vagas afirmativas para mulheres já aumentaria o número de colaboradoras, assim como a possibilidade de cargos compartilhados para conquistar uma gestão mais ampla. As companhias devem ir à exaustão para oferecer o melhor para seus colaboradores de acordo com suas necessidades específicas.”