Segundo a pesquisa Mulheres no Setor Elétrico, promovida pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) em 2023, apenas 20,81% dos colaboradores do setor são do gênero feminino.
Segundo Talita Porto, ex-vice-presidente do Conselho de Administração da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), essa discrepância pode ser observada desde as salas de aula do ensino superior.
“Durante o período em que estudei Engenharia Elétrica na PUC do Rio de Janeiro, existiam algumas aulas em que eu era a única mulher na turma. Foi o início de um longo aprendizado de como seria viver e atuar nesse ambiente masculinizado.”
Por sorte, logo no início de carreira Talita teve contato com grandes mulheres líderes em diferentes empresas e isso mudou sua visão com relação à própria carreira.
“Vivenciei a realidade dessas figuras divididas entre serem grandes profissionais e atenderem as necessidades escolares e médicas dos filhos, as questões domésticas e também pessoais. Foram experiências que marcaram a minha vida profissional e me fizeram crer que eu também podia chegar lá.”
Além do quesito igualdade de gênero, que extremamente importante, Talita acredita que a liderança feminina tem um papel chave na influência e incentivo para que outras mulheres busquem avanços em suas próprias carreiras.
“As empresas estão mais preocupadas em atingir a equidade de gênero e criar programas voltados para as colaboradoras. E, de forma cíclica, mais mulheres terão interesse em estar nesse segmento.”
E completa: “Não posso romantizar essa vivência, afina a sociedade espera que tenhamos excelência no âmbito profissional e em todas as conexões familiares. É uma eterna gincana que sempre falta uma tarefa para completar, mas com dedicação e foco conseguimos dar conta.”
Importância da presença feminina
Dados do Panorama Mulheres na Liderança, realizado pelo Talenses Group, apontam que a presença feminina na presidência de uma empresa tem impacto significativo na composição de gênero dos cargos de liderança, aumentando a proporção de mulheres em posições de alta gerência.
“Eu sempre digo que é essencial observar a liderança, pois é assim que conseguimos analisar a forma com que gostaríamos de atuar, quais são as dificuldades enfrentadas e ver que é possível. É um ciclo: quanto mais mulheres conquistam cargos de liderança, mais mulheres conseguirão se inspirar e almejar cargos de tomada de decisão.”
Talita ressalta um levantamento realizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) sobre os benefícios decorrentes da presença de mulheres nos conselhos de administração, sendo eles: melhoria da performance financeira das empresas; maior qualificação do processo decisório pela ampliação das perspectivas e pontos de vista; aprimoramento da governança corporativa; formação de bancos de talentos; e a melhoria da reputação das empresas perante os consumidores.
Para que a presença feminina nas empresas aumente, a gestora aponta a necessidade de incentivo à qualificação. “É que as empresas tenham um ambiente em que seja possível trabalhar e se aperfeiçoar de forma continua.”
Porém, na visão de Talita, o principal é que as empresas contratem mais mulheres, não apenas em cargos de entrada, assistência e operação, mas que pensem nelas como gestoras, executivas e presidentes.
Inspirações de vida
“Mulher tem que ser independente”. Talita ouviu essa frase ser repetida diversas vezes por sua mãe, estabelecendo desde sua infância a motivação para conquistar seus objetivos.
“Minha mãe foi professora de pessoas com deficiência auditiva e sempre buscava a inclusão de seus alunos na sociedade. Isso me inspira diariamente na busca pela diversidade e inclusão no mercado de trabalho.
Além da figura materna, Talita sempre algumas mulheres, no âmbito familiar e profissional, que serviram de inspiração, motivação e exemplo para formar a pessoa que ela é hoje. Sua avó e irmã são um exemplo disse, uma vez que ambas ficaram viúvas e conseguiram superar as adversidades para se estabelecer no mercado de trabalho.
No âmbito profissional, Talita pontua que existem grandes mulheres brasileiras empenhadas em contribuir para a evolução e o futuro do nosso setor. “Reverencio todas que diariamente buscam por essa pauta de representatividade do setor.”
A profissional cita um nome em específico que a inspira e motiva: Elbia Gannoum, presidente-executiva da ABEEólica.
“Além de uma profissional de excelência, é mãe de três filhos e mantém voz ativa no debate global sobre diversidade de gênero no mercado de energia.”
Talita também cita uma das poucas mulheres a ocupar cargos de chefia no setor nuclear brasileiro: Olga Simalista, que atuou como Superintendente de Planejamento da Nuclebras, Diretora de Furnas e presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN), além de ser ganhadora do prêmio 100 Mais Influentes da Energia.