Mercado de energia renovável passa por desafios globais e Brasil perde atratividade em investimentos, diz estudo da EY

Na Europa, a guerra na Ucrânia força a busca por alternativas energéticas, enquanto o Brasil vem investindo para reduzir sua dependência em hidrelétricas

A EY, empresa de consultoria e auditoria, anuncia o lançamento da 59ª edição do Índice de Atratividade de Países em Energia Renovável (RECAI – Renewable Energy Country Attractiveness Index).

Produzido desde 2003, o RECAI classifica os 40 principais mercados do mundo em relação à atratividade de seus investimentos em energia renovável, parte fundamental da transição energética, e às oportunidades de implantação.

As classificações refletem as avaliações da EY sobre a atratividade e as tendências do mercado global.

A pesquisa atual traz os Estados Unidos, a China e o Reino Unido na liderança do ranking e aponta o último ano como desafiador ao setor de energia em escala global, resultando em alta demanda e problemas na entrega do produto final aos consumidores.

O Brasil caiu quatro posições e agora ocupa a 13ª no ranking global de atratividade de investimentos em energia renovável.

Apesar da queda no ranking geral, o Brasil segue como líder na América Latina no que diz respeito à capacidade de geração de energia renovável, tendo produzido em 2021 um total 158 gigawatts.

A energia hidrelétrica, sozinha, representa 58% de toda a energia gerada no país.

O estudo aponta, ainda, que a dependência em hidrelétricas deixa o Brasil vulnerável a secas, como aconteceu em 2021.

Para amenizar este cenário, o país está intensificando seus esforços de produção voltada às alternativas de energia renovável, enquanto promove a abertura do mercado e os consumidores começam a ganhar acesso a um maior leque de opções.

Nesse sentido, a energia eólica, que representa 11% da capacidade energética total do país, ganha destaque. Isso porque existe capacidade interna para manufaturar sistemas de geração eólica, e, consequentemente, empresas que atuam em território nacional são frequentemente financiadas por entidades como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o Banco do Nordeste (BNB).

Em contrapartida, como os painéis solares de captação de energia são importados, majoritariamente da China, isso transforma o câmbio em um desafio às empresas que trabalham com esses equipamentos e o financiamento pelos bancos de desenvolvimento torna-se inviável.

América Latina e cenário global

Com extenso potencial de energias renováveis, o setor latino-americano pode experimentar um crescimento importante se barreiras como a incerteza política, a necessidade de novas regulamentações, infraestruturas e as complexidades de financiamento forem ultrapassadas.

Chamam a atenção a forma como Chile e México vêm lidando com essa questão.

O primeiro vem se modernizando para ser capaz de produzir hidrogênio verde a US$ 1,05 por quilograma até 2030, visando reduzir sua dependência em combustíveis fósseis.

Já o México possui um dos maiores potenciais energéticos solares do mundo e um alto potencial para captar energia eólica.

Entretanto, o governo vem promovendo reformas para restabelecer o controle estatal do setor, o que representa uma ameaça à indústria energética renovável no país.

Em sintonia com o Brasil, a Argentina também busca reduzir sua dependência em hidrelétricas e visa atingir 25% de sua produção de energia a partir de fontes renováveis não hídricas até 2030.

No caso da Colômbia, o país teria experimentado apagões no ano passado durante o período de seca, não fosse o fechamento de inúmeras fábricas em decorrência da pandemia.

Os dois países precisam investir fortemente em suas capacidades de transmissão de outras fontes de energia para conseguirem se desvencilhar da dependência hídrica.

No cenário global, percebeu-se uma escalada na demanda por gás natural no último ano, uma vez que o produto se tornou essencial para suprir demandas em múltiplos mercados.

Enquanto na América Latina a matriz energética foi importante nos períodos de seca, na Ásia, o gás natural foi importante para suprir as cadeias produtivas durante a crise causada pela pandemia.

A guerra na Ucrânia colocou ainda mais pressão no preço do gás natural e causou uma enorme volatilidade nos preços, afetando, principalmente, os países europeus, altamente dependentes da matriz energética proveniente da Rússia.

No Reino Unido, o preço saltou 367% entre abril de 2021 e fevereiro de 2022. De acordo com o RECAI, o preço do gás deve continuar alto no médio prazo, uma vez que projetos de infraestrutura que garantam às pessoas o acesso a energias alternativas levam tempo até serem concluídos.

Espera-se que essa situação ajude a estimular o desenvolvimento de fontes alternativas de energia renováveis e combustíveis emergentes, como o hidrogênio azul e o verde.

Mas é um processo que levará tempo, visto que tal forma de energia ainda precisa ser comercializada.

Os passos para reduzir a porcentagem do gás na produção de energia também incluem a eletrificação do aquecimento doméstico, bem como o aumento da energia eólica, solar e outras fontes de energia renováveis.

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