“O Case Cristiano Ronaldo e Coca-cola: Você sabe o que é congruência de valores?”, por Alexandre Slivnik

Respeitar os seus valores de vida e entender que o mundo evolui ajuda a construir autoridade para crescer pessoal e profissionalmente e tornar-se exemplo

Congruência é a correspondência entre o que se sente e expressa. Para que possamos crescer na carreira é extremamente importante sermos congruentes com nossos valores. Vou trazer um exemplo recente para demonstrar como a rigidez na defesa de valores pessoais, dependendo da dose, pode prejudicar ou ajudar a imagem de uma pessoa.

O atacante Cristiano Ronaldo envolveu-se numa grande polêmica após um jogo da Eurocopa, campeonato europeu de seleções. Em uma entrevista coletiva pós-jogo, foram colocadas duas garrafas de Coca-Cola no balcão onde ele iria responder às perguntas dos repórteres. Antes da entrevista começar, ele pegou as garrafas, colocou-as de lado, pegou uma garrafinha de água e disse, bebam água. Ou seja, ele quis passar a mensagem para quem estivesse ouvindo ou vendo, de que não tomava Coca-Cola e a água seria mais saudável.

Eu, particularmente, adoro Coca-Cola, mas sei que a água é mais saudável, assim como você, todos nós sabemos os benefícios da água. Porém, a Coca-Cola é, para muitos, uma bebida deliciosa e talvez uma das mais consumidas no mundo inteiro. E por que ela é uma das marcas mais conhecidas e valiosas do planeta? Por patrocinar grandes eventos e ter um grande público consumidor do refrigerante.

Mas o que tem por trás desse gesto? Vamos entender primeiro, o que essa atitude pode ter causado? Muitos veículos de comunicação soltaram manchetes dizendo que o gesto do Cristiano Ronaldo fez a Coca-Cola perder US$ 20 bilhões do valor de mercado. Ora, US$ 20 bilhões é 1,5% nas ações da empresa. Embora seja um valor muito alto, é preciso analisar outro fato ocorrido naquele dia. Por uma coincidência, algumas horas antes da coletiva do jogador português, a Coca-Cola efetuou uma distribuição de dividendos, de modo que as ações da companhia já estavam caindo 0,9%.

Por outro lado, o gesto do Cristiano Ronaldo fez as ações caírem um pouco mais, para 1,5%. Pouco tempo depois, as ações começaram a se recuperar, mas ficaram extremamente desequilibradas, porque ninguém sabia se isso seria benéfico ou não para a empresa.

Entretanto, o marketing que aconteceu após a entrevista beneficiou também a Coca-Cola em termos de marca. Embora exista uma máxima na comunicação do “falem bem ou falem mal, mas falem de mim”, é importante analisar como vão falar mal de você, pois isso pode ser extremamente prejudicial para sua imagem.

Cristiano Ronaldo é uma marca (CR7) e construiu esse negócio porque um dia já foi patrocinado, entre outras marcas, pela própria Coca-Cola. Não há nada de errado em se posicionar a favor de uma alimentação mais saudável, porque somos seres em evolução, o ambiente muda, porque o mercado muda, porque a sociedade muda.

Algumas conquistas que estão acontecendo agora, talvez dez anos atrás, eram diferentes. Antes da pandemia da Covid-19, muitas coisas não eram como são hoje, como a aceleração digital, por exemplo. O próprio gesto do Cristiano Ronaldo, por conta das redes sociais e da internet, acabou potencializado.

O fato da marca do CR7 ser muito forte e as redes sociais e a internet potencializam a divulgação para bilhões de pessoas, me leva a convidar você, leitor, a uma reflexão. Talvez, na minha opinião, essa não tenha sido a melhor forma dele lidar com a situação, afinal, ele precisa das marcas para poder sustentar a sua carreira.

Você pode até argumentar que o Cristiano Ronaldo já atingiu um nível na carreira que não precisa mais se preocupar com isso. Pelo contrário, ao meu ver, ele precisa justamente porque vive da imagem. Talvez, se ele tivesse agido de uma forma diferente, certamente seria muito melhor avaliado ou analisado pelas pessoas que o admiram. Ele poderia, simplesmente, pedir para alguém ou ele mesmo retirar cuidadosamente as garrafas do refrigerante e parar por ali, sem precisar fazer apologia à água.

A reflexão que eu quero trazer é sobre como nós tratamos, por exemplo, os nossos clientes. Muitas vezes, as pessoas acham que os clientes têm razão sempre. Eu sou da opinião de que eles nem sempre têm razão. Mas eles são a razão da existência do nosso negócio.

Jim Cunningham, ex-executivo da Disney, uma das empresas mais amadas do mundo, diz que os clientes não têm razão sempre, mas precisamos dar a oportunidade de mostrar a eles que estão errados de forma digna, ou seja, com cuidado e carinho.

Eu acredito que nesse episódio, o Cristiano Ronaldo estava certo dentro da sua congruência de valores, ao tirar a Coca-Cola do campo de visão. Contudo, de certa forma, ele acabou prejudicando tanto a imagem da fabricante de refrigerantes quanto a própria imagem, que depende de grandes marcas.

Para finalizar, eu quero que você reflita, pois se deseja evoluir, respeite os seus valores de vida, pois mais adiante, você vai ganhar autoridade para poder fazer o que achar que deve ser feito. Você precisa criar autoridade dentro do seu mercado, se você quer crescer na sua carreira. Mas tome cuidado com a forma como você faz, porque agir agressivamente, pode impactar negativamente a sua evolução profissional.

Nós vivemos em constante mutação e evolução. Hoje, eu adoro Coca-Cola e bebo diariamente uma latinha. Daqui cinco anos, talvez eu mude de ideia. O importante é ter consciência de que tudo é mutável e precisamos respeitar e ter congruência de valores.

*Artigo escrito por Alexandre Slivnik,  autor de diversos livros, entre eles do best-seller “O Poder da Atitude”. É diretor executivo do IBEX – Institute for Business Excellence, sediado em Orlando/FL (EUA), vice-presidente da Associação Brasileira de Treinamento e Desenvolvimento (ABTD) e diretor geral do Congresso Brasileiro de Treinamento e Desenvolvimento (CBTD).

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