Por que a energia eólica é tão importante para o Brasil?

Energia eólica está em crescimento, mas ainda existe muito espaço para se desenvolver

A energia eólica vem ganhando espaço entre as energias alternativas no Brasil e no mundo. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), a capacidade instalada no país chegou à marca de 16 GW no primeiro semestre de 2020.  São 637 parques eólicos e 7.738 aerogeradores.

Por ser extremamente renovável, essa fonte está crescendo não só no Brasil, mas também no mundo. Com o objetivo de emitir menos carbono na camada de ozônio, a energia eólica se mostra muito interessante.

Ricardo Salgado Martins, fundador da Natural Energia – empresa voltada para projetos eólicos com atuação no Brasil, Estados Unidos e Austrália –, explica que o crescimento da capacidade instalada desta fonte não se deve somente à questão ambiental.

“O resultado da energia eólica é uma fonte limpa e com baixo custo para os consumidores. Essa combinação impulsionou a indústria eólica no Brasil e em muitos países do mundo”, explica o fundador.

No Brasil, em especial no Nordeste, existe uma enorme possibilidade desse setor crescer por questões climáticas e também porque essa fonte está disponível em áreas de difícil agricultura e eminentemente com menos recursos financeiros. “Com isso, teremos uma transferência de renda para regiões que outrora eram consideradas semiárido e pouco produtivas.  Trata-se de uma das melhores formas de manter a expansão dos sistemas elétricos, mantendo-se um baixo impacto ambiental”, afirma Martins.

A energia eólica possui ainda o fator de capacidade – dado que mede a produtividade dos ventos – acima da média mundial. Segundo dados da Bloomberg New Energy Finance (BNEF), em 2019, o fator de capacidade médio mundial foi de 34%; no Brasil foi de 42,7%. Durante a “safra dos ventos”, período de junho até o final do ano, houve mês com média de 59%.

Com cada vez mais parques eólicos operando, em 2020, o Brasil chegou à 7ª posição no Ranking Mundial do Global Wind Energy Council (GWEC). A estimativa do setor é de que o país terá cerca de 24,2 GW de capacidade instalada até 2024, considerando leilões já realizados e contratos firmados no mercado livre.

No entanto, por depender exclusivamente de questões climáticas, esse tipo de energia pode possuir riscos. Isso porque que nem sempre existe vento suficiente para gerar a energia que o consumidor necessita em um exato momento.  Nesse contexto, o empresário da Natural Energia acredita na complementariedade das fontes para resolver esta situação.

“No caso do Brasil, temos um sistema elétrico com presença de grandes reservatórios de água, principalmente nos subsistemas sudeste/centro-oeste, norte e nordeste.  Nesses subsistemas, o controle automático de geração pode recompor esta intermitência e, quando este não for suficiente, entram as térmicas e futuramente entrarão baterias. ”

Elbia Gannoum, presidente da ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica), discorda. Ela defende que esse tipo de fonte tem um enorme potencial. Ela explica que somando todas as fontes de energia (nuclear, hídrica, térmica, eólica e outras), a capacidade instalada do Brasil é da ordem de mais de 160 GW. De potencial eólico, são estimados cerca de 800 GW.

“Isso não significa, no entanto, e é bom que se explique isso de forma clara, que o Brasil poderia ser inteiramente abastecido por energia eólica. Há que se considerar algo muito importante: a matriz de geração de eletricidade de um País deve ser diversificada entre as demais fontes de geração e a expansão da matriz tende a se dar por meio de fontes renováveis, dentre as quais está a eólica. Considerando que o Brasil ainda tem um baixo consumo de eletricidade per capita e o crescimento estimado para o País, a energia eólica ainda possui muitas décadas de desenvolvimento e ótimas perspectivas de crescimento”, sinaliza Elbia.

Elbia e Martins acreditam que existe ainda muito espaço para a energia eólica crescer no Brasil. Martins cita como caminho o desenvolvimento tecnológico, como o aumento das torres e do comprimento das pás. Além disso, as diferentes configurações das turbinas permitiriam aproveitar a energia de outras regiões que possuem médias altas de vendo, mas com constância e direção menores.

Já Elbia cita que uma área que deve surgir e crescer nesse setor é a eólica offshore. Segundo ela, estão acontecendo movimentos do Governo para avançar nas regulamentações necessárias para que a energia eólica offshore avance no Brasil. Um exemplo disso é um roadmap da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) sobre o assunto – sinaliza um desejo importante do governo de trabalhar para que o vento offshore possa se desenvolver com segurança no Brasil.

Outro exemplo é o “Termo de Referência Padrão para Complexos de Energia Eólica Offshore” que o IBAMA (responsável pela supervisão e regulamentação ambiental) lançou para estruturar pedidos de licenciamento para eólica offshore em novembro de 2020.

 “Acredito, portanto, que existe um grande potencial a ser explorado nesta área e sabemos que empresas e governo público estão se mobilizando para desenvolver esse setor que, na opinião da ABEEólica, é muito importante como uma das fronteiras da energia eólica no Brasil”, conclui Elbia.

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