O Brasil está em contagem regressiva para um apagão. O alerta é do professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Adílson de Oliveira, especialista em energia. Com os reservatórios de água do país com volume bem abaixo do desejado após o período de chuvas, que terminou em abril, o engenheiro químico acredita que a crise será inevitável em outubro ou novembro se o governo federal não tomar medidas drásticas e eficazes agora.
“Daqui a cinco ou seis meses, não teremos capacidade para abastecer o mercado. Só não estamos em racionamento agora por causa da pandemia de coronavírus, que deu uma estagnada na economia”, avalia o professor.
Os reservatórios das hidrelétricas que integram o subsistema Sudeste/Centro-Oeste, responsáveis por 70% da geração de energia do país, estão com o nível de armazenamento de água em 33%. O próprio ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) previu que, até o final de maio, eles deveriam estar em 39% para minimizar os riscos. Como não há previsão de chuvas, a tendência é que o volume caia cada vez mais, agravando a probabilidade de acontecer um apagão semelhante ao de 2011, quando houve racionamento.
Na usina de Marimbondo, na divisa dos estados de São Paulo e Minas Gerais, por exemplo, o nível do volume útil baixou para apenas 7,98%. A situação também está crítica na usina de Água Vermelha; o nível do reservatório bateu 5,84%.
Para o especialista, que participa na próxima semana de um painel sobre transição energética na conferência internacional Amanhãs Desejáveis, na UFRJ, para não haver racionamento é preciso agir rapidamente. Ele lembra que, na crise do setor ocorrida em 2001, o então presidente Fernando Henrique Cardoso, chamou os grandes consumidores e ofereceu compensações para aqueles que conseguissem reduzir o gasto de energia. Segundo ele, é preciso fazer o mesmo neste momento.
Para fazer frente ao problema, o governo Bolsonaro, que nega a ameaça de apagão, tem recorrido ao acionamento cada vez maior de usinas termelétricas, que geram energia a partir da queima de combustíveis como óleo ou gás natural. É uma opção bem mais cara, e que impacta na conta do consumidor. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) acionou a “bandeira vermelha” patamar 1 para maio. Isso significa que será cobrada uma taxa adicional mais alta, de R$ 4,169 para cada 100 kWh, ao longo deste mês. A bandeira fica na cor verde quando o nível dos reservatórios de água está alto e não há necessidade de acionamento extra de usinas térmicas.
Além disso, a União pretende importar maior quantidade de energia do Uruguai e Argentina, uma solução que, segundo Oliveira não se sustentará a longo prazo.
“Os dois países têm inverno rigoroso e precisam do gás para aquecimento. Vão querer aquecer a população ou fornecer gás para o Brasil? ”, indaga Oliveira.