A energia elétrica acumulou uma alta de 114% em 2021, segundo dados da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), e a tendência é de piora do cenário. Para 2022, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) projeta um aumento de mais 21%. Diante dessa realidade, duas modalidades de geração de energia têm chamado a atenção do mercado.
Conhecidas como PCHs e CGHs, as Pequenas Centrais Hidrelétricas e Centrais Geradoras Hidrelétricas estão se apresentando como alternativas sustentáveis e baratas.
Um dos motivos para o ânimo do mercado é que as usinas hidrelétricas, por terem sua tarifa indexada ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IPCA), oferecem uma alternativa muito mais economica que as termelétricas, por exemplo, que têm seus valores diretamente vinculados ao preço do barril de petróleo no exterior.
“De janeiro de 2000, quando começamos a aumentar a participação das [energias] fósseis na matriz, até 07/03/22, o preço do petróleo Brent, que é o preço dos combustíveis fósseis, subiu 1.073% acima do IPCA. Hoje esta diferença cedeu um pouco, mas está oscilando muito ainda acima de 850%. É muito dinheiro. O consumidor brasileiro poderia estar pagando 850% a menos com essas usinas indexadas ao IPCA, do que com as outras que repassam o risco do dólar e do barril do petróleo para o consumidor brasileiro”, afirma o presidente da Associação Brasileira de PCHs e CGHs (Abrapch), Paulo Arbex.
Energia cara, comida cara
Dois dos principais vilões do agronegócio brasileiro são justamente a falta d´água e o alto custo da energia elétrica. Devido a falta de investimento dos órgãos públicos em PCHs e CGHs, os agricultores recebem um mix de energias com alto conteúdo de térmicas fósseis caras, o que, em suma, encarece o custo da produção, que é repassado ao consumidor final.
“Tem uma sinergia enorme entre o agro e as pequenas hidrelétricas. Antigamente o agricultor vivia entre o ruim e o pior. Enquanto não existiam essas técnicas modernas de irrigação, o agricultor, ou ele estava naquela situação de chover bastante então ter bastante produto, mas com o preço lá no chão, ou uma seca avassaladora, o preço estar nas alturas, mas não ter produto para vender. Era um perde, perde”, explica Arbex.
“A hora que a gente começou a trabalhar com agricultura moderna, irrigada com canhão, com pivô, com gotejamento, nós tiramos o agricultor dessa situação. Só que o sucesso nosso na agricultura, que é para ser comemorado, foi tão grande que colocou uma pressão muito grande sobre os rios, sobre as reservas hídricas”, avalia.
Uma saída para esse cenário está, novamente, no investimento de hidrelétricas de pequeno porte, com a criação de novos reservatórios de água.
“Ao fazer reservatório, as hidrelétricas ajudam o agricultor a economizar. Ao invés de cada agricultor fazer um açude, gastar dinheiro, cuidar a manutenção cuidar da segurança do açude, colocar bomba d’água e tudo mais, a hidrelétrica faz o reservatório, aumenta a vazão do rio na seca, então aumenta naquele período crítico que é quando o agricultor precisa e ajuda a resolver esse problema do agricultor, barateia custos, reduz a conta de luz do e resolve o problema e ainda pereniza os rios, tirando essa pressão deles”, explica o presidente da Abrapch.
Evento debate mercado de PCHs e CGHs no país
Desde a manhã desta quarta-feira (23), está acontecendo a V Conferência Brasileira de PCHs e CGHs, em Curitiba. Com programação que vai até quinta-feira (24), o encontro está debatendo o mercado de geração de energia no país e conta com a presença das principais autoridades do setor. Um dos pontos discutidos é o modelo de remuneração das PCHs, que está defasado, o que desincentiva o investimento no setor.
“O ponto hoje mais importante para a gente é viabilizar uma forma de contratar as pequenas hidrelétricas, que ajudam a baratear o custo geral da energia, ajudam a reduzir a necessidade de contratar térmicas caras, isso ajuda a reduzir a tarifa para o consumidor. Mas a gente tem que achar uma forma de contratar essas PCHs na faixa de preço que deve ser o novo ponto de equilíbrio aí, que é alguma coisa entre R$ 250,00 e R$ 350,00 a cada MWh”, explica Paulo Arbex.
Esse custo é muito inferior ao das termelétricas, que oscila entre R$400 e R$ 2.500.
“Se a gente pode contratar uma térmica a R$ 1.600 até R$ 2.500, para atender a uma necessidade, a gente pode, mais ainda, contratar PCHs em volumes bons a R$ 300/R$350 para evitar ter que depois correr na emergência e contratar essas termelétricas por até R$ 2.500. A gente economiza mais de R$ 2.000 para o consumidor, a cada hidrelétrica que a gente contratar”, finaliza Paulo.
“Nós reconhecemos que as térmicas ajudaram a resolver o problema emergencial da maior seca dos últimos 90 anos em 2020, mas ponderamos que foi a um custo altíssimo que causou um enorme problema, mas temos vivido momentos emergenciais recorrentes desde 2001 e há como evitar que estes momentos se repitam no futuro”, disse Paulo Arbex.
“Aumentar a quantidade de PCHs e CGHs na matriz, fontes com geração mais estável e sem interruptibilidade horária, ajuda a reduzir a necessidade de contratação térmica cara e baratear a conta de luz do consumidor brasileiro, a um impacto ambiental muito menor e emissões ate 90% mais baixas”, finaliza o presidente.