“As mulheres têm que conquistar seu espaço meio que na cotovelada”, diz Fernanda Delgado, pesquisadora da FGV Energia

Importantes nomes do setor de energia dão seu depoimento sobre como ocupar espaços de liderança sendo mulher

Em março, o mês da mulher, a revista Full Energy agradece e homenageia todas as mulheres que fazem parte do setor da energia, tão importante para o País. Um setor que, predominantemente, é liderado por homens, ter mulheres em lugares de destaque é muito importante e incentiva outras a chegarem nesse mesmo lugar.

Segundo uma pesquisa realizada em 2019 pela IRENA – Agência Internacional para as Energias Renováveis, no escopo mundial as mulheres ocupam 32% dos empregos nas áreas de energias renováveis. Nas energias não renováveis esse número cai para 22%.

Já segundo o site EPBR, o setor de energia na América Latina concentra uma das maiores disparidades de gênero. Apenas 20% de toda força de trabalho são mulheres. Em cargos de alta gestão elas são 17%. Em diretorias ou na presidência de empresas, a porcentagem cai para 7%.

Estes números mostram que, apesar da presença feminina no setor de energia ser um avanço, ainda é preciso caminhar além, principalmente nos cargos de presidência e gestão. Por isso, selecionamos alguns nomes que representam essa demanda para parabenizar e inspirar outras mulheres no Dia Internacional da Mulher.

ELBIA GANNOUM – vice-presidente do GWEC (Global Wind Energy Council)

Elbia Gannoum é doutora em engenharia de produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mestre em economia pela mesma universidade e bacharel em Ciência pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Com atuação no setor de energia eólica, já foi presidente da ABEEólica (Assossiação Brasileira de Energia Eólica) por nove anos e atualmente é vice-presidente do GWEC (Global Wind Energy Council).

Elbia conta que quando começou a carreira no setor, há 20 anos, a realidade era outra, mas que está mudando aos poucos. Hoje, ela enxerga uma geração de mulheres fortes, determinadas e apaixonadas pela profissão que ocupam diversos setores como direção, gerência, assistência etc.

A engenheira almeja um futuro promissor para a liderança feminina “Acho que isso é possível porque as empresas já perceberam que a diversidade de opiniões e de perspectivas é algo profundamente valioso e necessário num cenário em que o futuro nos trará gigantescos desafios devido ao aquecimento global. ”

BARBARA RUBIM – sócia-fundadora da Bright Strategies

Advogada e sócia-fundadora da Bright Strategies, Barbara Rubim possui uma extensa carreira no setor elétrico e ocupa a cadeira de Vice-Presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) e é Diretora de Energia do Departamento de Infraestrutura da FIESP.

Barbara enfrentou desafios na área, não só por ser mulher, mas principalmente por ser jovem. “Nos primeiros anos era difícil ser vista, ouvida e respeitada como uma par, uma igual, em muitos dos espaços que frequentava – de governo a setor privado -, e mudar isso exigiu esforços e dedicação diários. Hoje é uma grande conquista ver que este cenário, não só para mim mas para tantas outras mulheres, está mudando. ”

Ela relembra que há seis anos atrás, quando chegava em um evento de energia, ela era a única mulher – especialmente como palestrante – e isso fazia com que seus discursos fossem mais fortes e pontuais. Hoje, o cenário é diferente, mais mulheres participam do setor e isso, segundo a advogada, a traz um conforto enorme

FERNANDA DELGADO – professora, pesquisadora e assessora Estratégica da FGV Energia

            Professora, pesquisadora e assessora Estratégica da FGV Energia, Fernanda Delgado é doutora em Planejamento Energético, mestre em Finanças Internacionais, mestre em Tecnologia da Informação, Bacharel em Relações Internacionais.

Ela se tornou professora logo no início do primeiro mestrado. Como executiva foram alguns anos de Vale óleo e gás, da sua criação até sua extinção. “Começar uma empresa de óleo e gás foi uma experiência incrível e a Vale óleo e gás investiu muito na formação dos seus funcionários. Isso foi muito bom pra mim. ”

Com o fim da Vale óleo e gás, ela foi direcionada para Vale Energia, para cuidar da implementação do projeto biodiesel nas operações norte e nordeste. Depois passou para o Planejamento Estratégico do pré-sal como terceirizada da Deloitte e de lá voltou para academia como professora full time FGV, dessa vez na FGV Energia onde está até hoje.

Fernanda conta que ser uma mulher no setor de energia não é fácil. Já passou por alguns episódios de assédio e foi muito subestimada “Histórias de mansplaining, de ter minha fala constantemente interrompida ou não me darem a palavra. ”

Para professora e pesquisadora, apesar de existir mulheres muito competentes hoje no segmento energético, ainda são pouco ouvidas. “É fácil perceber que a maioria dos Webinars são compostos em sua maioria por homens. ”

Por isso ela enfatiza que é necessário haver um espaço de fala, pois a impressão que ela tem é que a mulher tem que conquistar seu espaço meio que se impor. “A impressão que tenho é que as mulheres têm que conquistar seu espaço meio que na cotovelada, sabe? Chega pra lá que eu também estou aqui! ”

Como alternativa, Fernanda criou fóruns específicos. “Eu tenho uma iniciativa na FGV Energia chamada ECONOMIA, POLITICA E ENERGIA NO FEMININO onde todos os meses junto mulheres para falar desses assuntos e não tenho nenhuma dificuldade em encontrar mulheres líderes para discutir de forma técnica. ”

ANA CAROLINA RIBEIRO – à frente do setor financeiro da Natural Energia

Ana Carolina é engenheira Mecânica formada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e está à frente da Natural Energia desde janeiro de 2019. Ela explica que a empresa possui uma política interna de meritocracia e, portanto a questão de gênero não faz diferença.

A engenheira acha que Acho que a cada dia que as grandes empresas, de maneira geral, têm dado importância para o fator da inclusão, mas ainda há muito a percorrer nesse sentido. “Percebo que o mercado de uma tem buscado reconhecer talentos femininos e buscado a visão das mulheres para integrar sua forma de análise. ”

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