As ações chinesas diante das mudanças climáticas

He Jun, conselheiro comercial do Consulado da China em São Paulo, reflete sobre o papel estratégico do país na governança climática global

Na recém-encerrada COP26, o presidente chinês Xi Jinping enfatizou que, norteada pela visão de uma comunidade de vida entre o Homem e a Natureza, a China continua priorizando a preservação ambiental e buscando um caminho verde e de baixo carbono para o desenvolvimento.

O país leva adiante um reajuste na estrutura industrial para acelerar a transição verde e descarbonização da matriz energética, focando no crescimento da participação das fontes renováveis.

Durante a conferência, a China e os Estados Unidos divulgaram a Declaração Conjunta de Glasgow sobre a Intensificação da Ação Climática na Década de 2020, refletindo plenamente o papel que a China desempenha na condição de grande país para implementar o Acordo de Paris, participar da governança climática global e viabilizar uma comunidade mundial de futuro compartilhado.

Trata-se de mais uma ação da China para assumir sua responsabilidade internacional de maneira condizente com as condições nacionais e adotar de forma espontânea as medidas cada vez mais ambiciosas para uma transição verde na economia diante do desafio global da mudança climática.

He Jun, conselheiro comercial do Consulado da China em São Paulo

Por meio de esforços continuados, a China conseguiu manter um crescimento econômico rápido enquanto empreendia mudanças significativas nas formas de gerar e consumir energia. Além disso, o país alcançou conquistas históricas no desenvolvimento sustentável de novas energias.

As novas fontes de energia aumentaram significativamente sua participação na matriz energética. Na última década, a China eliminou 120 gigawatts (GW) de termelétricas a carvão obsoletas, a capacidade instalada de energia renovável aumentou em média 14% ao ano, e sua participação no consumo primário subiu de 9,1% para 15,9%, cumprida a meta de elevar essa percentagem para 15% até 2020.

No final do ano passado, a capacidade de geração de fontes renováveis da China totalizou 980 GW, com uma participação de 44,7% na matriz. Desse total, a energia eólica representava 280 GW, a fotovoltaica, 250 GW, a hidrelétrica, 370 GW, a biomassa, 29,52 GW, e a nuclear, 49,89 GW. Já a eletricidade gerada por essas fontes atingiu a marca de 2,6 milhões de gigawatts-hora, o maior volume mundial, respondendo por mais de um terço do consumo nacional.

Floresce a indústria relacionada às novas energias

A China já conta com um sistema industrial relativamente completo nesse setor. Tem a maior capacidade independente de desenho e fabricação de turbinas hidrelétricas da categoria de gigawatts; figura na vanguarda mundial em nível técnico e em escala produtiva de aerogeradores para vento com menor velocidade; possui a cadeia produtiva mais completa para geração fotovoltaica, setor em que também é líder mundial.

Por oito anos consecutivos, o mercado fotovoltaico da China registrou o maior crescimento do mundo. O país ainda é campeão internacional na produção de polissilício, células e módulos fotovoltaicos. Dos dez maiores fabricantes desses módulos, sete são chineses.

Além disso, a China também liderou, por seis anos consecutivos, a produção e as vendas de veículos movidos a novas energias. A frota de 6,03 milhões de unidades até junho deste ano retrata o vigor dessa indústria promissora.

A cooperação internacional em novas energias continua a se expandir

A China é o maior mercado mundial de energia renovável e maior fabricante de equipamentos dessa vertente. Empresas chinesas estão presentes no setor hidrelétrico em vários países e regiões, fornecem 78% das células solares e 72% dos painéis fotovoltaicos do mundo.

Os investimentos chineses em projetos energéticos nos países parceiros da iniciativa Cinturão e Rota estão em trajetória ascendente, contribuindo com o conhecimento e a força da China para um desenvolvimento verde e de alta qualidade.

Em virtude das vantagens do Brasil em recursos naturais, a cooperação sino-brasileira em energia vem migrando das fontes tradicionais para as renováveis, materializando-se rapidamente em diversos projetos nos últimos anos.

Com investimentos em grandes hidrelétricas, a CTG e a SPIC já estão entre as maiores geradoras do país. Outra gigante chinesa, a CGN, mais focada nos empreendimentos de energia eólica e solar, já tem dois projetos greenfield de energia eólica em andamento.

Com o aprofundamento da cooperação bilateral no setor e a entrada em operação desses empreendimentos, é de acreditar que a escassez de energia causada pela seca será atenuada e o desenvolvimento brasileiro ganhará mais sustentabilidade.

A China está sempre em ação para responder às mudanças climáticas. Em setembro deste ano, o presidente Xi Jinping reafirmou na 76a Assembleia Geral da ONU que o país busca atingir o pico das emissões de CO2 até 2030 e alcançar a neutralidade ambiental até 2060.

Para alcançar essas metas, o governo chinês está formulando um arcabouço institucional “1+N” com cronograma e itinerário bem definidos, englobando os seguintes dez aspectos:

(1) Otimizar a matriz energética, controlar e reduzir o uso de fontes fósseis, como o carvão;

(2) Incentivar a otimização e modernização da indústria produtiva;

(3) Promover a construção de edifícios e instalações de baixo carbono e alta eficiência energética;

(4) Construir um sistema de transporte verde e descarbonizado;

(5) Desenvolver uma economia circular para aumentar a eficiência do uso de recursos;

(6) Fomentar a inovação tecnológica verde e de baixo carbono;

(7) Ampliar finanças verdes;

(8) Introduzir políticas econômicas de apoio e medidas de reforma;

(9) Estabelecer e aperfeiçoar o mercado de carbono com mecanismos de precificação;

(10) Implementar soluções de base natural.

Vale salientar que a China controlará com maior rigidez o aumento no consumo de carvão durante o período de 2021 a 2025, e o reduzirá ao longo do quinquênio seguinte, a partir de 2026, com o objetivo de elevar para 25% em 2030 a participação da energia renovável no consumo primário.

Além disso, a China aumentará o apoio a outros países em desenvolvimento na exploração de fontes de energia verde e de baixo carbono, e já assumiu o compromisso de não construir novos projetos de termelétrica a carvão no exterior.

O país pretende levar apenas 30 anos a partir do pico de emissão para alcançar a neutralidade, um prazo muito mais curto do que o proposto por países industrializados. O cumprimento dessas metas não será fácil e exigirá um árduo trabalho.

Com uma visão panorâmica na conjuntura, a China leva em consideração uma comunidade global de futuro compartilhado e faz os maiores esforços ao seu alcance para oferecer seus contributos e honrar os compromissos, porque acredita que “uma governança bem-sucedida depende de ações sólidas”.

Ao mesmo tempo, é particularmente importante que todos os países trabalhem juntos em buscar de uma cooperação internacional para enfrentar a mudança climática.

Vamos unir forças para agir com pragmatismo com o fim de acelerar a transição verde e implementar efetivamente a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e o Acordo de Paris. Que a sinergia nos dê a força necessária para proteger o planeta Terra como um lar de todos nós e construir com ações concretas uma convivência harmoniosa entre o Homem e a Natureza.

 

  • Artigo por He Jun, conselheiro comercial do Consulado da China em São Paulo, publicado na 39ª edição da Full Energy. Clique aqui e confira a edição na íntegra.

 

Related Posts

Próximo Post

COLUNISTAS

Eduarda Zoghbi - Full Energy

Felipe Kury - Full Energy

Giovane Rosa

Renata Santos - Colunista

BBCE

Most Popular