A ansiedade pela Copa do Mundo é sentida no ar e, finalmente, saiu a convocação oficial. Porém, não é de uma crônica esportiva que se pretende tratar aqui; então, de que time falamos?
Desde a entrada em vigor do Acordo de Paris em 2016, ficou estabelecido que a União Europeia vislumbrará o atingimento da neutralidade carbônica (por meio de tranches de diminuição que precisam ser revisitados e auditados periodicamente).
Além disso, bem como os demais signatários do pacto internacional, ficou avençado o aprimoramento da performance na redução das emissões dos gases do efeito estufa.
E, assim, um movimento global voltado à necessidade de solução para as incitações proporcionadas pelas alterações climáticas deu gênese a uma visível polarização (mais uma).
De um lado posicionaram-se aqueles que entoaram que o entrave climático era apenas uma falácia. De outro – ao que se filia este que escreve – se aglomeraram os que sustentam que o processo de transição energética não é isento de desafios e requer uma forte aposta na tecnologia e digitalização ao longo de toda a cadeia produtiva, mas, ao fim e ao cabo, trará mais valor (real/financeiro) para as empresas e virá em primazia da sustentabilidade.
A zaga desta nossa equipe também defende que, o tema tem tanta importância (social, cultural e material) que nos tempos mais recentes, já temos escutado o termo “aceleração energética”, ao invés de transição energética”. E isto é um bom indicador de sua premência.
E como se faz para aumentar a velocidade do processo à luz das incertezas? Vamos por partes:
A intermitência, característica típica das fontes renováveis, denota mais imprevisibilidade do que o aproveitamento da energia fóssil. A resposta para este problema tende a se fiar fortemente no incremento de tecnologia, desde as apostas na inteligência artificial, o 5G, o IoT (Internet of Things), a sensorização e a medição inteligente (smart grids). E o empresariado vem olhando para isto com atenção.
Ademais, nos parágrafos logo acima, dizia-se que não se trata apenas de circunstância reputacional; pois, para além desta óbvia repercussão, citam-se também como exemplos das melhorias trazidas pelos primados da sustentabilidade no ambiente das empresas com este viés:
A. Geração de engajamento dos trabalhadores: Os colaboradores que trabalham em empresas sustentáveis conseguem identificar que as suas atividades são fundamentais para transformar o meio ambiente e a sociedade.
Sem a colaboração deles, o processo simplesmente não acontecesse. O senso de pertencimento e de relevância do indivíduo nesse contexto o torna mais motivado com tal empoderamento e, consequentemente, seu nível de produtividade aumenta.
B. Vantagem concorrencial: Ao encadear a trilha sustentável, as empresas estarão se colocando na frente da concorrência e com um potencial para expandir para novos mercados (e, se não estiver suficientemente claro, diga-se: com mais potencialidades de ganhos financeiros).
Como o movimento é contínuo e incessante, rapidamente este não será mais um diferencial e passará a ser requisito mínimo para o relacionamento comercial.
Isso posto, parece consequência natural que os consumidores também levem isso em conta na hora da escolha de seus serviços e produtos.
C. Ganho de eficiência/ incentivo: Para escalar a otimização, é cediço que os recursos tem que ser minorados e processos tem que se tornar mais eficientes e menos dispendiosos.
O próprio poder público fomenta iniciativas para pavimentar este caminho desde a concessão de benefícios fiscais, até a criação de políticas específicas de subsídios.
É importante que o mercado esteja todo mapeado para se extrair o máximo de ganhos da jornada sustentável.
No momento em que este artigo está sendo redigido está ocorrendo a COP 27 no Egito. Na esteira desse acontecimento, é impossível não fazer uma remissão aos ODS e como o setor de energia se inserta nesse meio.
Para quem ainda não é familiar ao tema, os “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” definiram uma cronologia de desenvolvimento para os próximos anos, conhecida como Agenda 2030.
Há cerca de 5 anos, foram renovados os 17 ODS que têm como objetivo: “assegurar os direitos humanos, lutar contra a desigualdade, enfrentar as injustiças sociais, agir contra as mudanças climáticas, e, como não poderia deixar de ser: universalização da energia limpa sob o prisma da modicidade tarifária”.
Estes citados, entre outros mais. Para o Brasil, as metas são por demais arrojadas, porém, pode ser dado como certo, outrossim, que iremos cumprir nossas promessas com a energia renovável.
De acordo com dados oficiais, 64,9% da energia consumida no Brasil é de fonte hidráulica. O país usa 84% de fontes renováveis para a produção de energia, enquanto a média mundial é de 25%.
Pelo exposto, temos jogos pela frente mais desafiadores do que os da Copa. Já, na “COP 27”, segundo o Relatório do Global Carbon Project (GCP) temos que as emissões de CO2 em 2022 atingiram níveis praticamente recorde – o motivo seria uma combinação de emissões constantes de uso da terra entre 2021 e 2022 e aumento das emissões de CO2 fóssil, sendo a maior parte do aumento das emissões proveniente do petróleo.
Dado que a missão da conferência climática deste ano visa mobilizar financiamentos para transição energética, cortar emissões e adaptar regiões inteiras para lidar com as consequências da mudança climática, cabe a pergunta: vamos virar esse jogo? Vamos sim, mas somente com a tática correta.
Apostando na autossuficiência energética do Brasil e na exploração de todo o nosso potencial para exportar energia também. Utilizando tecnologia para avançar as renováveis — como a produção do hidrogênio, eólicas offshore, solar –, sem, entretanto, perder de vista o enorme potencial do petróleo e gás, ainda muito relevante para a questão da segurança energética.
Sem açodamento, pois, entre outras tristezas, o conflito recente entre a Rússia e a Ucrânia evidenciaram que a segurança energética é tão importante quanto a transição. É preciso seguir o caminho correto e, sobretudo, responsável.
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Advogado com 20 anos de experiência no setor elétrico, Daniel tem especialização em Business Law e Direito de Energia. Professor convidado na FIA Business School – USP para o módulo de “Legislação do Setor Elétrico” no Curso de Gestão de Ativos de Energia e Ex-gestor regulatório de multinacionais de energia.