Deputado Julio Lopes compartilha os benefícios da energia nuclear e seu impacto na matriz energética brasileira

Entrevista exclusiva com o deputado federal Julio Lopes traz o cenário da matriz nuclear e seus impactos ao redor do mundo

Apesar das controvérsias em torno da segurança e dos impactos ambientais associados à energia nuclear, o Brasil tem buscado expandir sua capacidade como parte de sua estratégia energética.

A fonte é vista por muitos como sendo de baixa emissão de carbono, capaz de fornecer uma base estável de eletricidade para complementar as fontes intermitentes, como a solar e a eólica.

Julio Lopes, deputado federal e presidente da Frente Parlamentar da Tecnologia e Atividades Nucleares, acredita no potencial do segmento e usa a França como case de sucesso nesse tipo de energia. 

“A França tem 70% da sua matriz focada no segmento nuclear e busca triplicar esse tipo de energia ao redor do mundo. Então não existe dúvidas de que é um tipo de energia viável e que compensa.”

O parlamentar acredita que, por mais que a visão do público ainda esteja turva com relação à energia nuclear, o crescimento do segmento mostrará seus benefícios, inclusive financeiros. “O que é caro não é a energia nuclear, mas a forma que essa questão é administrada no Brasil”, pontua.

Confira a entrevista exclusiva com o deputado federal Julio Lopes sobre o cenário da matriz nuclear e seus impactos ao redor do mundo. 

  • Qual a importância da Frente Parlamentar da Tecnologia e Atividades Nucleares?

Uma Frente Parlamentar é um lugar de mobilização, de conversas e interações sobre determinado tema. A Frente Parlamentar da Tecnologia e Atividades Nucleares tem o propósito de fazer essa grande área retornar ao Brasil com a expressão e força que a sociedade merece e precisa, lutando pelas causas necessárias e fazendo sugestões para parcerias. 

Por exemplo, temos a visão de que o sucesso do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub) possibilita uma parceria com a França para o desenvolvimento de reatores modulares de pequeno porte também, quem sabe.

  • Como você enxerga o papel da energia nuclear na Energia brasileira?

Vejo o papel como fundamental no quadro energético do país hoje, principalmente quando falamos de crescimento. Apenas 2% de toda energia brasileira é gerada a partir dessa fonte, mas temos potencial desse valor chegar entre 5% e 10% no primeiro instante.

  • De que formas a energia nuclear está se manifestando em outros países? 

Para se ter uma ideia, os Estados Unidos possuem 20% com base nuclear e estão querendo dobrar esse número. A França tem 70% da sua matriz focada no segmento nuclear e busca triplicar esse tipo de energia ao redor do mundo. Então não existe dúvidas de que é um tipo de energia viável e que compensa. 

Precisamos seguir essa tendência de inovação e modernização, afinal a energia nuclear pode fazer bem ao mundo todo, uma vez que precisamos de uma fonte renovável, de qualidade e que deixa poucos resíduos.

  • Quais são os principais projetos de lei sobre o tema em andamento atualmente?

Nós temos vários projetos em andamento sobre essa área, mas antes é necessário preencher a Agência Nacional de Atividades Nucleares, que precisa ter a integralidade de seu quadro de nomeados para agir com integralidade. O ministro já se comprometeu a avançar com esse processo, mas ainda não tivemos retorno. Esperamos que isso seja feito em breve.

  • Em termos de custo-benefício, como a energia nuclear se compara a outras fontes de energia? Quais são os principais argumentos para incentivar a adoção dessa fonte?

A matriz brasileira está muito baseada nas fontes hídricas e hidrelétricas, que possuem um custo específicos. Podemos comparar que, por questões de subsídios e particularidades, a energia do Brasil fica três vezes mais cara do que na França, que utiliza o segmento nuclear. 

Portanto, o que é caro não é a energia nuclear, mas a forma que essa questão é administrada no Brasil. Essa fonte é extremamente competitiva, ainda mais quando comparamos com as outras térmicas, como gás, óleo, biogás, biomassa, entre outros.

  • Como mudar a visão dos consumidores e público geral sobre a energia nuclear?

O público consumidor vai mudar a visão sobre energia nuclear à medida que forem a utilizando e vendo suas vantagens, da mesma forma que aconteceu com a telefonia e a tecnologia. Podemos dizer que o segmento nuclear é a fonte da maior revolução tecnológica da área de energia.

As usinas são menores, mais baratas, mais eficientes e muito mais segura. Se antes o celular era grande e apenas realizava ligações, mas se tornou um aparelho multi funções, o mesmo acontecerá com a energia nuclear: ela se minimizou, se tornou mais potente e eficiente, além de rápida e barata. 

  • De que forma a energia nuclear pode impulsionar a inovação e a competitividade das empresas brasileiras?

Acredito que o simples uso da energia nuclear já vai fazer esse trabalho. As empresas que estão focadas em competitividade e resultados vão se interessar pelo nuclear da mesma forma que os players com foco em ESG e responsabilidade social, possibilitando novos investimentos e formas de pensar.

  • Deputado, você acredita que empresas já estabelecidas com outras fontes de energia vão se aventurar nesse segmento? 

Não tenho dúvidas! Isso já está acontecendo em Santa Catarina, por exemplo, com a Diamante Energia, que está transformando as suas usinas de carvão em pequenas centrais nucleares. 

Já nos Estados Unidos, o Bill Gates vem transformando a geração de energia dos grandes centros computacionais da Microsoft em propulsão nuclear. Então hoje vocês têm gigantes do mundo todo com projetos de convergência para a energia nuclear, e isso deve ser algo ser cada vez mais recorrente.

  • Qual o papel da energia nuclear na transição energética brasileira?

A grande transição energética brasileira já ocorreu em nossa matriz, que é a mais limpa do mundo, então a nuclear tem um papel pequeno nesse processo. A energia hidrelétrica tem um fator de potência de 65%, enquanto a eólica e solar conta com apenas 25%, além do nível de subsídio muito elevado. 

Não tenho nada contra essas fontes de energia, até porque são fundamentais para o conjunto da energia brasileira, mas também precisamos de uma fonte firme, térmica, confiável e de pronto acionamento. A nuclear oferece isso e tem 85% de pronta resposta de energia consistente de fatores de potência. 

  • Quais são as principais perspectivas políticas e econômicas da Energia brasileira para 2024?

Acredito que uma das grandes questões é encontrar uma forma de equilibrar o balanço energético brasileiro, afinal estamos em um momento em que temos uma oferta excedente de energia para um crescimento menor de demanda e, ao mesmo tempo, o preço continua subindo. 

Então obviamente temos um desbalanceamento do setor e toda vez, no mercado econômico, que aumenta a oferta, deve-se diminuir o preço, porque a restrição também será abrandada. Se a oferta e o preço aumentam juntos, algo esta desregulado, então precisamos revisar esse subsídio enorme que está sendi dado a essas áreas e reestruturar a grande malha de energia no Brasil.

Essa e outras matérias exclusivas fazem parte da edição 49 da revista Full Energy. Confira!

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