Desafios e oportunidades do Biometano e a Interiorização do uso dos gases de baixa emissão

A busca por soluções de infraestrutura em gás é uma necessidade inerente ao desenvolvimento das economias, sendo a indústria de redes um vetor de desenvolvimento industrial, financeiro e comercial.

Porém, o questionamento de como promover a Interiorização do uso dos gases de baixa emissão, sem onerar os sistemas de transporte e distribuição de gás, tem aparecido em diversas discussões.

Esperamos que, para os próximos anos, a indústria de Petróleo e Gás esteja cada vez mais consciente de seu papel, assuma protagonismo na transição justa e segura de energia, e apresente resoluções disruptivas com o contexto atual, aliando economicidade e ações ESG (práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização), sobretudo, a descarbonização.

Neste cenário, o Biometano, gás resultante da purificação do Biogás* e originado através de resíduos orgânicos, assume papel fundamental na transição.

Isso porque a cadeia tem investido em tecnologia, sistemas industriais de gerenciamento de resíduos, com suas atividades incentivadas por certificações e valoração de atributos, onde o biogás torna-se cada vez mais acessível.

Recentemente, no Fórum Internacional do Reino Unido – o World Biogás Summit – profissionais do setor dissertaram sobre o ganho de relevância acerca do tema biometano em diversos aspectos.

Nos pontos levantados, o tópico que se sobressaiu foi a “Crise do Gás”, que revela a tendência dos preços do Gás Natural manterem-se elevados, e a opção de um gás de origem renovável como o Biometano tem cada vez mais importância ao considerar questões econômicas.

Em outra perspectiva – com o mundo mais consciente sobre aspectos ambientais ESG, pacto mundial de descarbonização e programas, como o metano zero – agentes de mercado têm sido mobilizados na busca por energias limpas e renováveis, fator que impacta diretamente o mercado mundial e brasileiro.

Para que o Biometano figure evetivamente como protagonista desta transição, é necessário que sejam superadas barreiras, como a adoção de soluções que permitam a escala de desenvolvimento de forma cooperada, que sejam adotadas tecnologias de ponta e acessíveis para os produtores, que a eficiência de produção e conversão de equipamentos seja bem sucedida e que seja estimulada a integração e distribuição do mesmo no mercado.

Cabe ressaltar que o papel da Indústria de Redes de Distribuição de Gás Canalizado, conforme a Constituição, é prover infraestrutura, e a mesma acaba por exercer a função de indutor de desenvolvimento, principalmente nos projetos de interiorização, seja para uso veicular, comercial e Industrial.

Assim, ao estimular a produção de Biometano, a Associação Brasileira do Biogás (Abiogás) e a Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás) junto aos seus associados, provocam discussões importantíssimas sobre o tema.

Visando especificamente o aproveitamento do Biometano na interiorização e descarbonização de forma complementar ou não ao Gás Natural, o Biocombustível pode ser intercambiável com o Gás em todas as suas aplicações, ou passível de ser transportado na forma de gás comprimido, por meio de gasoduto virtual ou na forma de gás liquefeito (denominado biometano liquefeito – Bio-GNL).

Pode, ainda, evoluir para formação do Hidrogênio H2, com Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e investimentos de grande monta, mas isso é assunto para um próximo artigo.

Além disso, o Biogás tem uma vantagem incontestável perante outras fontes de energia: ser produzido a partir de um passivo ambiental e, assim, gera um ativo econômico.

Neste sentido, além da energia produzida, também movimenta e desenvolve toda uma cadeia de suprimentos e serviços para seu crescimento.

Ou seja, demanda de equipamentos, tecnologias, consultores, instaladores, operadores e materiais de construção, promovendo assim um crescimento econômico local, regional e estadual.

Desta forma, o uso do biometano como fonte de energia térmica e motora passa a ser imprescindível para o crescimento e melhoria da eficiência dos setores produtivos, especialmente para o agronegócio.

Pode-se afirmar, então, que pensar em formas de distribuir Biometano canalizado em redes isoladas, ou distribuir um “blend” de Gás Natural e Biometano nas redes de distribuição é um benefício tanto econômico quanto socioambiental.

Entretanto, para que a cadeia de Biogás e Biometano se desenvolva, além de incentivos e políticas públicas, é necessário uma maior divulgação e difusão do conhecimento sobre as tecnologias e oportunidades, na busca pelo desenvolvimento de soluções viáveis técnica e economicamente.

Para fortalecer a temática e o conhecimento sobre o assunto, dois grandes eventos serão realizados no país. No mês de abril de 2023, teremos o Fórum Sul Brasileiro do Biogás e Biometano, onde o potencial de produção de biogás da região Sul do Brasil será discutido.

Na sequência, no mês de maio de 2023, a ABiogás promove o Seminário Técnico da ABiogás, que visa disseminar as melhores práticas no Brasil, país rico em diversidade dos resíduos, sejam eles urbanos, agropecuários e da indústria, como abatedouros, fecularias, cervejarias e outras indústrias, que produzem efluentes com alta carga orgânica.

*Biogás: composto majoritariamente por metano (55 a 70%) e dióxido de carbono (30 a 45%) e, devido à presença do hidrocarboneto metano, é um gás energético, portanto, um biocombustível com característica renovável, o processo de purificação ou “upgrade”.

Referência

https://biogasebiometano.com.br/

https://energiaebiogas.com.br/seminario-tecnico-abiogas-2023

https://abiogas.org.br/

Rosa, G., Almeida, E. (2022). As Redes de gás e a transição energética: o que esperar para o futuro?. Ensaio Energético, 24 de outubro, 2022. Disponível em  https://ensaioenergetico.com.br/as-redes-de-gas-e-a-transicao-energetica-o-que-esperar-para-o-futuro/

https://www.epe.gov.br/pt/abcdenergia/matriz-energetica-e-eletrica#:~:text=Enquanto%20a%20matriz%20energ%C3%A9tica%20representa,a%20gera%C3%A7%C3%A3o%20de%20energia%20el%C3%A9trica.

https://www.iea.org/

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