Eduardo Rossi, conselheiro da CCEE, fala sobre benefícios, desafios e perspectivas do Mercado Livre de Energia

“Em 2023, percebemos que o ritmo de adesões ao Mercado Livre está mais acelerado no Brasil como um todo. Esse crescimento mostra que o ambiente tem se tornado cada vez mais atrativo e que os consumidores têm encontrado no segmento os produtos que se adequam às suas necessidades individuais.”

Essa é a visão de Eduardo Rossi, conselheiro de Administração da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), que ainda pontua a crescente relevância de pautas ambientais na decisão de migrar para o mercado livre. 

Em entrevista exclusiva à Full Energy, Rossi comenta ainda a importância de atrair potenciais clientes para o mercado livre e que, para isso, será preciso “evoluir e avançar na comunicação com o consumidor final.”

Confira a entrevista na íntegra. 

  • De que formas o Mercado Livre de Energia impacta a economia brasileira?

Os benefícios da abertura do Mercado Livre de Energia são diversos e se estendem desde o consumidor individual, que terá um fornecimento mais personalizado, até a economia do próprio país.

Com a possibilidade de comprar energia com mais flexibilidade, o consumidor pode negociar o insumo sob demanda, buscar ofertas de preços e ainda escolher o tipo de fonte que mais lhe atende nas necessidades individuais. Para o setor elétrico, esse cenário gera movimentação, aumenta a liquidez nas negociações e estimula o desenvolvimento de produtos e serviços para atender a demanda dos clientes.

As vantagens também se estendem para o país como um todo. O Mercado Livre promove a concorrência entre os fornecedores de energia, o que é um motivador importante para a produtividade. Dado que o insumo é essencial para quase todas as atividades econômicas, um setor elétrico mais eficiente se traduz em uma indústria e um ambiente de negócios mais competitivos, beneficiando tanto o consumidor interno como a posição do Brasil no mercado internacional.

  • Na sua visão, o Mercado Livre de Energia também colabora para pautas de ESG?

Observamos que a pauta ambiental tem ganhado peso significativo na decisão de migrar para o Mercado Livre. Com a possibilidade de escolher a fonte da energia, as empresas, cada vez mais engajadas na pauta de ESG e com metas ousadas de descarbonização, enxergam o ambiente como uma oportunidade. Esse movimento ajuda a impulsionar o segmento de energia limpa e renovável. Também percebemos que a questão ambiental tem um peso importante na decisão de migrar, com a busca por contratos que garantam o fornecimento por fontes renováveis. 

  • De que forma os usuários finais serão afetados pelo Mercado Livre?

Para o consumidor, a maior vantagem da abertura do Mercado é a ampliação do seu poder de escolha. Ele poderá optar entre um conjunto de serviços e produtos que estarão ao seu dispor, por aqueles que mais se encaixam no seu perfil. 

Imagine, por exemplo, uma clínica que tem atendimento 24 horas e poderá negociar uma energia mais barata ao longo da madrugada. Ou uma família que tenha uma casa de campo, além da sua residência, e que poderá reunir o consumo desses dois locais em uma única fatura, com condições diferenciadas. As possibilidades são múltiplas e as soluções surgirão à medida que o mercado do varejo se estabelecer e consolidar.

  • São Paulo e Rio Grande do Sul foram os estados com mais unidades que migraram para o Mercado Livre no primeiro semestre, segundo a CCEE. Como está a relação do país com o Mercado Livre além dos estados do Sul e Sudeste?

Os grandes consumidores eletrointensivos, como é o caso da indústria metalúrgica e química, já aderiram ao Mercado Livre há anos. Portanto, o que temos percebido é que as migrações atuais são compostas por unidades de menor porte. 

Com esse cenário, há mais espaço para que fábricas e empresas de fora dos grandes eixos produtivos e empresariais tenham participação representativa no volume de entrantes do segmento livre. É exatamente esse o caso de estados como Pernambuco, Goiás e Ceará, que também se destacaram neste primeiro semestre de 2023 pelo volume expressivo de migrações. Vale notar ainda o esforço das comercializadoras para buscarem esses potenciais clientes fora dos estados do Sudeste e do Sul.

  • Como você avalia as adesões ao Mercado Livre em 2023?

Em 2023, já percebemos que o ritmo de adesões ao Mercado Livre está mais acelerado no Brasil como um todo. Esse crescimento mostra que o ambiente tem se tornado cada vez mais atrativo e que os consumidores têm encontrado no segmento produtos que se adequam às suas necessidades individuais. Não só a possibilidade de economia, mas flexibilidade de contratação e um caminho para avançar rumo a uma operação mais sustentável, com a compra de energia renovável.

  • Quais os principais desafios enfrentados pelo ambiente livre?

Do ponto de vista regulatório e de preparação do ambiente tecnológico e de negócios, a CCEE, em alinhamento com o Ministério de Minas e Energia (MME) e com a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), está empenhando os esforços necessários para aprimorar seus processos, robustecer seus sistemas e garantir que a abertura do mercado livre para toda a alta tensão a partir de janeiro de 2024 ocorra com previsibilidade, de forma organizada e sustentável.

  • O que pode impulsionar o Mercado Livre de Energia?

Para a atração de potenciais clientes para o Mercado Livre será preciso evoluir e avançar na comunicação com o consumidor final. Historicamente, no setor elétrico, as distribuidoras concentraram esse papel de interagir com os consumidores. 

Como o ambiente livre ainda não está disponível para a maioria da população e dos setores produtivos, parece um segmento distante do dia a dia de muitas pessoas e corporações, mas logo o Mercado precisará se aproximar. Os consumidores terão que conhecer o ambiente livre, seus benefícios e as ofertas disponíveis.

Essa passará a ser uma atribuição das organizações setoriais junto com as comercializadoras e as geradoras de energia, que precisam se preparar para o desenvolvimento de estruturas e investimentos em comunicação.

  • E qual é o maior diferencial do Mercado Livre atualmente?

Os maiores diferenciais do Mercado Livre para o consumidor são: a possibilidade de contratar energia sob demanda e com condições contratuais personalizadas; a oportunidade de buscar ofertas e preços atrativos; e a opção de contratar um fornecimento por fontes renováveis. 

Mesmo para aqueles que optarem por se manterem no ambiente regulado, a abertura é benéfica, porque amplia o seu poder de escolha, gera eficiência no setor elétrico como um todo e traz ganhos de competitividade para o país.

  • Quais são as perspectivas para o Mercado Livre nos próximos anos?

O segmento ganhou 3.330 novas unidades consumidoras no primeiro semestre deste ano, volume recorde que representa um avanço de 52% na comparação com a primeira metade do ano passado. Ao final de junho, o ambiente acumulava 34,4 mil indústrias e estabelecimentos comerciais.

Para o futuro, a Portaria 50/2022 do MME prevê que, a partir do ano que vem, todos os consumidores conectados na alta tensão, independentemente do quanto consomem de energia, poderão optar pelo segmento livre. De acordo com estimativas da CCEE, há um potencial de migração de até 72 mil cargas para o ambiente nos anos após a implementação da medida.

  •  Por fim, quais são os anseios da CCEE para esse segmento?

Nós acreditamos que o futuro do mercado de energia é livre e por isso temos contribuído ativamente para avançarmos nesse tema. A alteração regulatória prevista para janeiro de 2024, que vem pela Portaria 50/2022, contou com as nossas contribuições, assim como temos apoiado o MME e a ANEEL em suas tomadas de decisão. 

Nós defendemos que essa abertura seja contínua, previsível e sustentável, que aconteça levando em consideração os contratos que já foram firmados no mercado regulado, para não onerar os consumidores que, por qualquer razão, prefiram não migrar para o ambiente livre. A ideia é que toda a sociedade tenha essa liberdade de escolha, beneficiando todos.

Essa e outras matérias estão disponíveis na edição 47 da revista Full Energy

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