Elbia Gannoum, da ABEEólica, discute sobre a importância do segmento e possibilidades do mercado offshore

O ano de 2022 foi muito produtivo para a energia eólica brasileira. Segundo dados da Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (ABEEólica), o setor já representa mais de 12% da matriz energética brasileira e ocupa a 6ª posição no mercado global de eólica. Além disso, o ano chega ao fim com mais de 24 GWs em capacidade instalada, somando parques em operação comercial e testes.

O segmento também se mostra uma importante contribuição para a Transição Energética. Segundo Elbia Gannoum, presidente executiva da ABEEólica, “a área de renováveis vem crescendo bastante e o mundo está com o olhar focado na transição como parte fundamental para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.”

A gestora acredita que, pela competitividades e características do Brasil, as energias eólicas e solar são os tipos de renováveis com maior potencial no país e devem crescer em diversos estados. “Precisamos de energias que sejam renováveis e que também gerem benefícios e renda para as comunidades.”

Ao analisar os impactos da energia eólica para a economia do país, Elbia cita um estudo elaborado por Bráulio Borges, pesquisador-associado do FGV-IBRE e economista-sênior da LCA Consultores. O objetivo do estudo foi quantificar os impactos diretos e indiretos dos investimentos em energia eólica para o PIB, empregos e redução da emissão de CO2.

“O estudo mostra que, basicamente, cada R$ 1,00 investido em parque eólico tem impacto de R$ 2,9 sobre o PIB, após 10 a 14 meses, considerando todos os efeitos. Esta é a prova de que, além de ser uma energia renovável, a eólica também tem um forte componente de aquecer atividades econômicas das regiões aonde chegam parques, fábricas e toda a cadeia de sua indústria. E este é um número fundamental em um momento como esse, em que discutimos a retomada econômica verde.”

Com relação ao impacto nos empregos, o estudo mostra que, considerando pesquisas prévias sobre o tema no mundo todo, chega-se a uma estimativa de cerca de 196 mil empregos entre 2011 e 2020, ou 10,7 empregos por MW instalado na fase de construção dos parques.

“Este é um número que permite a realização de alguns cenários para o futuro próximo, uma vez que o setor possui um bom mapeamento de quanto será instalado nos próximos anos. Internacionalmente, trabalhamos com valores que vão de 10 a 15 postos de trabalho por MW. Com o valor de 10,7 estamos num cenário razoavelmente conservador de estimativa, e agora queremos refinar estes dados para termos um cenário ainda mais detalhados do que geramos de empregos pelo País”, analisa Elbia.

E completa: “Neste exato momento, temos quase 5 GW em construção pelo País, então com esse valor do estudo sabemos que são mais de 50 mil trabalhadores neste momento construindo nossas futuras eólicas, além dos mais de 15 mil em Operação & Manutenção.”

Energia offshore

Ao analisar a energia eólica brasileira, a região Nordeste se destaca com um potencial muito grande, afinal representa cerca de 80% do segmento pelos ventos de elevada produção. Segundo Elbia, com o início das operações em offshore, esse cenário vai mudar um pouco, mesmo que a região siga sendo um destaque no setor. 

Atualmente, alguns dos principais estados em potencial eólico para aproveitamento e produção de energia offshore são: Ceará, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul. 

“Essa modalidade tem um potencial enorme de geração de energia e, consequentemente, de investimento econômico, tecnológico e na geração de empregos diretos e indiretos. A EPE estima que o Brasil possua aproximadamente 700 GW de potencial para exploração da fonte eólica offshore em locais com profundidade com até 50 metros. Estamos trabalhando no momento na questão regulatória, mas até o fim da década o cenário brasileiro de eólica deve ser incrementado com as offshore.”

Para que isso seja possível, empresas do setor eólioco e algumas que originalmente produzem petróleo estão estudando o mercado e acompanhando cada etapa regulatória deste segmento. “É desse cenário que deve surgir a maior parte de investimento em offshore, e isso está sendo bastante discutido entre governo, mercado e sociedade para garantir a segurança de investidores e atender a todas as exigências socioambientais de empreendimentos tão complexos.”

Em favor a isso, duas portarias foram publicadas pelo Ministério de Minas e Energia em outubro para avançar com os negócios offshore e trazer segurança para o processo. Elbia acredita que, “além de transparência e segurança jurídica, a economia também precisa crescer para ter demanda para esse grande potencial energético.”

Próximos anos

Analisando as perspectivas para 2023, Elbia ressalta a importância dos projetos que estão sendo fechados no Mercado Livre de Energia. “É importante lembrar que, desde 2018, as eólicas vendem mais no mercado livre do que no regulado. Hoje estamos com 22 GW e até 2026 teremos 37 GW e esses valores não se referem a projeções, mas sim a contratos já assinados.”

E completa: “isso mostra a força do mercado brasileiro, que ainda deve crescer mais, apesar da pressão de custos deste período que estamos vivendo.”

Para o futuro, junto com as futuras operações de eólica offshore, Elbia ressalta que existe outro grande potencial na exploração de usinas de geração eólica desse tipo: a produção de hidrogênio verde. “O Brasil é destaque na produção de renováveis, com um amplo portfólio, e reforça seu grande potencial e protagonismo global na transição energética e numa economia de baixo carbono.”

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