Gestão de riscos em contexto de baixa volatilidade de preços de energia e alongamento de prazos de contratos

Gestão de riscos é um tema extremamente relevante para a sustentabilidade dos negócios

Alto volume de chuvas, pouca demanda das unidades geradoras e Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) no piso estão entre os fatores que contribuíram para que estivéssemos em um período ímpar de baixa volatilidade de preços de energia elétrica.

Como comentamos em outra coluna na Full Energy, essa realidade fez com que os negócios na BBCE com prazo de mais de um ano atingissem um volume inédito na história da companhia. Mas como fica a gestão de riscos nesse contexto atípico?

A tabela abaixo revela como os prazos foram ampliados nos últimos anos. Atualmente, existem os negócios superiores a um ano representam a maior parcela do que é transacionado na BBCE.

Participação dos prazos sobre o volume total (GWh)
Até 6 meses Entre 6 meses e um ano Mais que um ano
2020 69% 18% 13%
2021 62% 19% 19%
2022 43% 25% 32%
1S2023 26% 13% 61%

Nesse contexto, um dado importante é que a composição de preços no Ambiente de Contratação Livre (ACL) é diferente para o curto e para o longo prazo.

Os valores de produtos de curto prazo são diretamente correlacionados com o Custo Marginal de Operação (CMO), que representa o valor do próximo MWh a ser despachado pelo Sistema Interligado Nacional (SIN) e atualmente está zerado.

Por outro lado, os preços praticados no longo prazo estão relacionados com o custo marginal de expansão (CME), que significa o valor de produção de um MWh adicional ao aumentar a capacidade produtiva do sistema.

Como o CME é menos impactado pelas condições conjunturais e influenciado pelas projeções de sobreoferta nos próximos anos, esse custo apresenta menor volatilidade em comparação ao curto prazo. Podemos verificar que essa realidade é fielmente ilustrada pelo gráfico a seguir, no qual visualizamos uma estabilidade de preços maior acima de 360 dias.

Se há uma maior atividade de negociação de energia no longo prazo, é necessário que a pessoa responsável por operar esses contratos reveja modelos de gestão de riscos.

Adicionalmente, se oportunidades são encontradas mais para operações de longo prazo, é importante se preparar para acompanhar os alongamentos de carteira.

Diante disso, é relevante aos agentes do mercado livre que se atentem, no dia a dia de seus times de middle office, aos limites de negociação consumidos nas operações com outras contrapartes em uma visão por período específico e, ainda, em uma visão global.

Contudo, ao analisar os dados de negócios realizados na BBCE e os limites concedidos entre contrapartes, identificamos que poucas empresas concederam limites a partir de 2025.

Assim, ainda encontramos diversas que receberam limites, mas não estão operando com todas as contrapartes com as quais possuem limites já concedidos.

O gráfico pode sinalizar um espaço para, dentro de apropriadas estratégias de gestão de risco, ampliar negociações com contratos de longo prazo.

Gestão de riscos é um tema extremamente relevante para a sustentabilidade dos negócios. Para cada momento, há uma necessidade específica de atuação e prevenção, totalmente alinhada para o contexto de mercado e de uma empresa.  E a gestão de limites de negociação com contrapartes é parte importante desse processo.

Marcelo Bianchini, especialista de Produtos da BBCE e Lucas Fassina, analista da BBCE

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