Para Elbia Gannoum, da ABEEólica, políticas de contratação e iniciativas incentivadoras são chave para fortalecer as mulheres no setor

Além de criar as políticas de contratação, a gestora acredita que é fundamental revisar cargos e salários para ter certeza de que as mulheres sejam remuneradas igualmente aos homens que ocuparam a mesma posição

“Confesso que demorei um pouco para entender os tratamentos diferentes que nós, mulheres, recebemos no mercado de trabalho”, revela Elbia Gannoum, presidente-executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica).

Em seu início de carreira, a gestora era constantemente considerada nova demais para fazer apresentações e liderar debates, então apenas seguia com seu trabalho em busca de oportunidades.

“É desafiador, mas é preciso ter tranquilidade, adquirir conhecimento e ser um tanto destemida. Acredito que, em minha posição atual, construí um nome e uma carreira que me permitem ser ouvida e reconhecida, inclusive financeiramente, que são grandes obstáculos para nós.”

Com passagens pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL); Ministério de Minas e Energia; e Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), Elbia reforça que precisou estudar e batalhar muito mais que os homens para chegar onde está.

“A mulher precisa se provar cinco vezes mais para ocupar os espaços de liderança e é necessário mudarmos isso. Hoje dedico parte do meu tempo fazendo mentoria para reduzir esse caminho tortuoso e diminuir o número de profissionais que acabam desistindo no meio do caminho, principalmente quando chega a fase de ter filhos e gerenciar a família.”

Porém, a missão de fazer com que a presença feminina seja mais pujante na Energia brasileira não é exclusiva para as mulheres, mas se estende às empresas e instituições.

A presidente-executiva da ABEEólica frisa diversos estudos, inclusive um levantamento da Organização Internacional do Trabalho (OIT); mostram que um ambiente mais diverso é mais fértil criativamente e lucrativo. 

“O mercado de trabalho precisa refletir a nossa realidade e, quando tivermos equipes mais diversas, o cenário todo será mais amplo e inclusive. Sem contar que existem características que, comumente, apenas as mulheres têm, como o diálogo e facilidade para resolver conflitos, por exemplo.”

Elbia acredita que é essencial que as empresas tenham políticas de contratação e metas para equidade de gênero, pois um setor criando essas políticas e mensurando os resultados fará a Energia progredir em alguns anos.

Caso contrário, segundo o Fórum Econômico Mundial, será necessário mais de 100 anos para conquistar a igualdade de gênero.

Além de criar as políticas de contratação, a gestora acredita que é fundamental revisar cargos e salários para ter certeza de que as mulheres sejam remuneradas igualmente aos homens que ocuparam a mesma posição. 

“São muitas possibilidades de melhora, como aumento da licença paternidade para auxiliar as mães e oferecer estrutura para conciliar carreira e família. Tenho consciência que muitas medidas não se encaixam em todas as empresas e modelos de negócio, mas ouvir as mulheres de cada empresa e criar inciativas a partir disso pode ser um ótimo começo.”

Inspirações de vida

Ao enfrentar diariamente os desafios de diversificação da matriz energética, Elbia relembra mulheres que foram fundamentais para sua trajetória, tanto ao fornecer estrutura quanto inspiração. 

“Muito do que sou hoje eu atribuo à minha mãe, que me criou sem dizer o que eu podia fazer ou não e sempre me apoiou. Tenho diversas colegas em que posso me espelhar e que me inspiram diariamente. Seja com mulheres com muito tempo de profissão ou com novas profissionais da área, me mantenho em estado de aprendizado constante.”

Essa e outras matérias exclusivas fazem parte da edição 49 da revista Full Energy. Confira!

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