Parceria entre Brasil e Noruega pode ser fundamental para o desenvolvimento sustentável

As empresas norueguesas atuam para fomentar e acelerar o processo de transição no país

O Brasil tem uma condição muito particular e favorável quando se trata de transição energética. Além de ser o país com o maior mix de energia renovável, sua matriz energética é uma das mais limpas do mundo industrializado – enquanto o consumo de energia no país provém 43% de fontes renováveis, no mundo esse número não chega a 15%.

No entanto, o consumo de energia está crescendo mundialmente e os países precisam estar preparados para suprir uma nova demanda, levando em conta o Acordo de Paris, com o qual o Brasil se compromete a reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% abaixo dos níveis de 2005, até o ano de 2025.

Paralelamente, o conceito ESG (Environmental, Social and Governance) cresce em ritmo acelerado, criando uma era em que os negócios precisam atender às expectativas de investidores por meio da efetiva contribuição das empresas aos problemas concretos da sociedade, tornando os projetos de altas emissões menos atraentes ao financiamento.

Nils Gunning, Embaixador da Noruega no Brasil, afirmou em recente entrevista que “todas as empresas norueguesas incorporaram a transição nos seus negócios, sobretudo as companhias de energia, já bem avançadas nesse processo. O Brasil tem o conhecimento necessário não só para participar, mas liderar o cenário da transição”, reforçou o Embaixador.

As empresas norueguesas atuam para fomentar e acelerar o processo de transição também no país. O Parque Solar de Apodi, no Ceará, ilustra um dos maiores investimentos já realizados no país nessa área. O projeto, feito em parceria entre a Equinor e a Scatec Solar, fornece energia para aproximadamente 170 mil famílias e contribui anualmente para a redução de 200 mil toneladas de CO2.

Na estratégia de reduzir continuamente as emissões de suas operações brasileiras, a Equinor está substituindo geradores de energia a diesel na nova Plataforma C de Peregrino por geradores de turbina a gás. Outra iniciativa é utilização de soluções de digitalização para otimizar o consumo de energia, proporcionando uma redução de aproximadamente 145 mil toneladas de CO2 por ano, o equivalente às emissões de 30 mil carros em um ano.

“Assim como em outros países, a indústria de petróleo e gás deve impulsionar os investimentos verdes, à medida que as empresas se preparam para atingir suas metas de descarbonização”, diz Alex Imperial, Vice-Presidente, DNV Energy Systems para a América do Sul, com base na pesquisa publicada no inicio do ano pela consultoria norueguesa DNV sobre o tema transição energética – Industry Outlook Report 2021.

Entre os resultados marcantes da análise global está o recorde de dois terços (66%) dos profissionais seniores de petróleo e gás, com o relato de que sua organização está se adaptando ativamente a uma matriz energética menos intensiva em carbono em 2021, contra apenas 44% em 2018. Ainda, cerca de 57% diz que planeja aumentar o investimento em renováveis, ante 44% no ano passado. Quase metade (48%) espera aumentar o investimento em gás verde ou descarbonizado.

Outra empresa do setor de óleo & gás, a Aker Solutions investe e apoia o Brasil na transição energética oferecendo tecnologias que contribuem para a redução de pegada de carbono.

Além de tecnologias como Offshore FloatWind, CCUS (Carbon Capture, Utilization and Storage) existentes no seu portifólio de produtos, a Aker Solutions vem desenvolvendo manifolds submarinos WAG (Water Alternate Gas), que permitem a injeção dos gases provenientes da separação topside no reservatório, evitando que eles sejam eliminados na atmosfera e equipamentos All-Electric (totalmente elétrico).

A empresa norueguesa também está participando do desenvolvimento do Hisep a partir de uma patente de uma grande operadora nacional. O Hisep é um complexo sistema de separação e bombeamento submarino que remove, ainda no fundo do mar, o excesso de gás rico em CO2 presentes em alguns campos do pré-sal.

A experiência da Noruega em trazer soluções com viés imediato de baixo carbono para os desenvolvimentos de hidrocarbonetos pode ser refletida também na área marítima.

A Subsea 7 acaba de converter uma embarcação de inspeção, manutenção e reparo submarino (IMR). O Seven Viking foi projetado para operar com propulsão híbrida, permitindo que o motor da embarcação alterne entre o diesel e a energia proveniente de baterias. A tecnologia inovadora de redução dos níveis de emissão dos gases de exaustão desenvolvida para o navio proporciona o aumento da eficiência energética e a redução das emissões de carbono na atmosfera.

A Solstad tem um programa de economia de combustível desenvolvido para alcançar a meta de emissões zero – Solstad Green Operations (SGO). Com a ajuda dos clientes e da tripulação, a empresa consegue economizar entre 15 e 20% de combustível durante as operações, o que pode chegar, no mínimo, a 500 litros de combustível por dia, ou seja, energia suficiente para abastecer uma família americana média por seis meses ou para dirigir um carro elétrico por quilômetros. Desde a implantação do programa, em 2009, a empresa já economizou mais de 1 milhão de toneladas de CO2.

A companhia possui atualmente sete embarcações com sistema híbrido de bateria a bordo, incluindo sistema de energia de terra, e nove navios apenas com sistemas de energia de terra. Os sistemas de armazenamento de bateria podem gerar mais 10% de redução adicional de combustível além das medidas operacionais feitas por meio do programa Solstad Green Operations. É possível alcançar uma redução de 50% no abastecimento de combustível para os navios que usam energia de terra, dependendo da disponibilidade desse sistema nos diferentes portos.

Expertise norueguesa na transição de outras indústrias

A atuação da Noruega no Brasil não se resume ao setor marítimo e de óleo e gás. A bandeira norueguesa está presente em áreas diversas, como a indústria do alumínio, energia renováveis e fertilizantes.

Como parte da estratégia de fortalecer sua posição em alumínio de baixo carbono, a Hydro estabeleceu a Hydro REIN, empresa que oferece soluções de energia renovável para ajudar no sucesso da transição energética da própria Hydro e de clientes. A nova unidade de negócios já possui parcerias estabelecidas no Brasil e planeja investir em projetos que somam 1GW.

“Facilitaremos o alcance à energia renovável acessível, proveniente de nosso portfólio de projetos hídricos, solares e eólicos no Brasil e nos países nórdicos. Também forneceremos soluções em escala industrial para melhorar a eficiência energética, reduzir emissões e cortar custos”, diz Olivier Girardot, líder da Hydro REIN.

Como parte do compromisso da empresa com a sustentabilidade, a Hydro tem parceria com conceituadas universidades brasileiras e com o Instituto Senai de Inovação em Tecnologias Minerais (ISI-TM). Esta última, para a utilização de resíduo de bauxita como condicionador de solo na agricultura local, ganhou o Prêmio TMS Light Metals 2020.

Com foco em nutrição de plantas, a Yara International assinou no início deste ano uma Carta de Intenções com a Statkraft e a Aker Horizons com o objetivo de estabelecer o primeiro projeto de amônia verde em grande escala na Noruega, possibilitando a economia de hidrogênio e acelerando a transição para a energia verde. A Yara quer ser destaque em amônia verde (gerada a partir de fontes renováveis), não apenas para a área de nutrição de plantas e produção de alimentos, mas também para diversos outros setores que geram grande impacto devido à escala, como combustível para navios e outras aplicações industriais.

No Brasil, além de projetos locais ligados à descarbonização da indústria, a empresa investe esforços em desenvolver e oferecer ao mercado brasileiro soluções nutricionais que gerem mais alimentos, proporcionem maior rendimento e contribuam para o maior sequestro e incorporação de carbono ao solo.

O grande destaque neste cenário são as soluções a base de nitrato, fonte de nitrogênio para as plantas, que contribuem diretamente para aumentar a eficiência do uso do nutriente ao não volatilizar (processo em que há perda de parte da composição como forma de gás ao ser aplicada em determinadas condições climáticas), reduzirem as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e consequentemente diminuírem também o impacto ambiental, além de garantirem rendimentos mais elevados em algumas culturas.

“Investimos em soluções inteligentes, que combinam programas nutricionais e ferramentas digitais para tirar o máximo proveito de cada cultura, um trabalho integrado que vai além da produtividade, também alinhado ao clima, descarbonização, conectividade agrícola e novos modelos de receita no agro”, afirma Cleiton Vargas, vice-presidente de Estratégia da Yara Brasil.

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