“Vamos falar mais sobre eficiência energética?”, por Eduarda Zoghbi

No processo de transição energética, esquecemos que a energia mais sustentável é aquela que não é consumida

Um dos temas menos discutidos do nosso setor é a importância da eficiência energética. Enquanto a maioria das políticas públicas buscam atrair investimentos em fontes renováveis, aumentar a capacidade de geração e baratear o custo para consumidores, melhorias em eficiência energética acabam deixando de ser priorizadas dentre várias agendas de peso.

No processo de transição energética, esquecemos que a energia mais sustentável é aquela que não é consumida, entretanto, falhas de mercado e a falta de incentivos econômicos diminuem nosso potencial de utilizar menos energia.

Por exemplo, comprar um aparelho barato faz mais sentido de um ponto de vista financeiro do que um que seja mais eficiente e consuma menos energia.

A legislação brasileira já obteve vários sucessos como a criação do Programa Nacional de Conservação de Energia (Procel), que contribuiu para que ficássemos 14% mais eficientes entre 2005 e 2019.

Os melhores índices vieram dos setores de transporte e residencial, seguidos pela indústria. De acordo com Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Conservação de Energia (ABESCO), apenas o setor industrial poderia economizar R$ 4 bilhões por ano adotando medidas mais eficientes. Para a associação, essa economia corresponde a 6 milhões de toneladas de CO2 equivalente que deixariam de ser emitidas, o que equivale ao plantio de 42,63 milhões de árvores.

Sobretudo, o principal relatório que monitora o progresso do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 7 (ODS 7), indicou que o Brasil demonstrou níveis de intensidade energética mais altos em 2020, comparado ao ano de 2010.

A intensidade energética mede a quantidade total de energia consumida por unidade de PIB. Em outras palavras, se a nossa intensidade energética aumentou, nós estamos utilizando mais energia para produzir a mesma unidade de PIB, causando uma redução da nossa eficiência energética.

Isso pode ocorrer por conta de vários fatores, incluindo: o crescimento do setor industrial, tecnologia antiquada ou dependência em fontes de baixa eficiência. Enquanto isso, tanto a Índia como a China, durante o mesmo período, reduziram sua intensidade energética.

O relatório “Tracking SDG7” deste ano, também classifica a América Latina como terceira região que teve menor redução em sua intensidade energética, logo após o Oeste Asiático e Norte Africano.

Eles justificam que, na América Latina, a queda do PIB foi maior, o que pode ter contribuído para a falta de melhoria nos níveis de intensidade energética. Os especialistas também indicaram que os países com o menor progresso são aqueles em que a extração intensiva de combustíveis fósseis representa uma parcela significativa do PIB, como Irã, Brasil, Nigéria, Arábia Saudita, Rússia e Canadá.

No começo do mês, em Paris, representantes de 45 países, incluindo o Brasil, estiveram presentes na Conferência Global em Eficiência Energética, organizada pela Agência Internacional de Energia (IEA) e pelo governo francês.

Durante o evento, participantes endossaram o objetivo de duplicar a taxa média global de melhorias em eficiência energética até 2030, saindo dos 2,2% de progresso anual para 4%, visando a criação de empregos no setor, redução do custo de energia e da dependência em importações de combustíveis fósseis.

A IEA aponta que tecnologias digitais poderiam poupar US$ 1,8 trilhão em investimentos globais em redes elétricas até 2050, estendendo a vida útil das redes, integrando energias renováveis ao sistema e reduzindo interrupções no fornecimento para consumidores.

No entanto, a escolha de não digitalizar a infraestrutura de redes poderia reduzir o progresso econômico de países em desenvolvimento em quase US$ 1,3 trilhão, devido à queda na produtividade e despesas desnecessárias com geração de energia, elevando custos e comprometendo metas climáticas.

Como solução para o desafio de dobrar nosso progresso em eficiência energética, o Tracking SDG 7 sugere três principais medidas:

  1. Criação de instrumentos regulatórios que obriguem níveis mais altos de eficiência energética em edificações, equipamentos, veículos e na indústria;
  2. Incentivos fiscais e financeiros para encorajar a instalação de retrofits e equipamentos com alta eficiência energética;
  3. Programas de conscientização que ajudem consumidores a tomares decisões mais conscientes.

Entre 2013 e 2020, o governo brasileiro gastou 2 bilhões de reais em pesquisa, desenvolvimento e demonstração (PD&D) em projetos de eficiência energética, e, apesar do papel do poder público ser fundamental para a redução da nossa intensidade energética, o setor privado também é igualmente importante.

Companhias podem conduzir auditorias e avaliações para identificar as áreas ineficientes em suas operações, investir em equipamentos e sistemas mais eficientes, gerenciar a cadeia de suprimentos e otimizá-la para reduzir o desperdício de energia, além de integrar renováveis em sua produção.

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