A CESP – Companhia Energética de São Paulo colocou em atividade a primeira usina termossolar no Brasil. Localizada em Rosana (SP), a planta piloto é capaz de demonstrar que a tecnologia, também chamada de heliotérmica, é tecnicamente aplicável no contexto nacional e traz a vantagem de uma produção de energia elétrica controlável e menos suscetível aos impactos da intermitência da luz solar.
O projeto pioneiro foi desenvolvido pela companhia no âmbito do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento do Setor de Energia Elétrica regulado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), por meio da Chamada 019/2015 para projetos estratégicos, dedicada à fonte termossolar.
O trabalho foi implementado junto a parceiros estratégicos como Institutos Lactec, Eudora Energia, MRTS Consultoria e MFAP Consultoria, contratados pela companhia para sua condução. Os produtos do projeto foram entregues à agência reguladora e estarão disponíveis aos interessados em investir ou continuar pesquisando sobre essa nova tecnologia no país.
Em desenvolvimento desde janeiro de 2017, o projeto recebeu R$ 57 milhões em investimento regulado pela agência para a construção e integração de uma planta piloto de geração de energia termossolar ao Complexo de Energias Alternativas Renováveis da UHE Porto Primavera. O complexo conta também com estruturas experimentais de tecnologia solar fotovoltaica e sistemas de armazenamento de energia.
A planta piloto construída no oeste paulista possui capacidade de 0,5 MW, o equivalente para atender a 360 residências de consumo médio em torno de 180 kWh/mês.
Conhecido também como CSP (concentrating solar power), o tipo de tecnologia escolhido para a usina recém-inaugurada tem um processo semelhante ao das termelétricas, porém utiliza o calor do sol como fonte, em vez de combustíveis fósseis e poluentes.
A CESP construiu a planta com as chamadas calhas parabólicas, formadas por painéis compostos por espelhos côncavos que seguem a posição do sol. O calor capturado aquece um fluido de transferência que circula por tubos posicionados na linha de foco dessas calhas, produzindo vapor que movimenta turbinas para, enfim, gerar eletricidade.
Vantagens e incentivos
A principal vantagem da tecnologia heliotérmica em relação às outras fontes renováveis intermitentes é a possibilidade de armazenamento de calor e utilização em momentos de maior interesse para o sistema elétrico. O fluido aquecido pode continuar fornecendo energia térmica para as turbinas mesmo após o pôr do sol.
“Em unidades de grande porte, essa geração se estende por até 18 horas, conferindo à usina capacidade de gerar energia mesmo sem a presença da fonte e proporcionando maior controle sobre os processos”, afirma Luis Paschoalotto, gerente de Engenharia de Operação e Manutenção da CESP.
Outra particularidade da tecnologia utilizada pela CESP é que os painéis são constituídos de espelhos de alumínio com filme refletivo, material com maior vida útil do que o vidro, utilizado na maioria das estruturas comerciais fotovoltaicas.
“A fonte termossolar tem potencial importante para geração de energia elétrica no Brasil, pois agrega o aspecto renovável a atributos importantes para a gestão do Sistema Interligado Nacional, como a capacidade de controle da produção e a inércia associada às máquinas rotativas. O calor produzido também pode ser aproveitado em outros processos industriais, como os de cogeração, e a produção de energia também pode ser associada à produção de eletricidade a partir de outro tipo de fonte, no modelo híbrido”, declara Paschoalotto.
“Para que a tecnologia termossolar ganhe escala e competitividade na matriz elétrica brasileira, é necessário haver incentivo, pois a demanda de investimento para implantação, operação e manutenção ainda é significativamente superior à das fontes eólica e solar fotovoltaica”, destaca.
Hidrogênio verde
O Complexo de Energias Alternativas Renováveis da UHE Porto Primavera abriga também um projeto de P&D ANEEL que pesquisou o armazenamento de energia através do hidrogênio verde, considerado o combustível do futuro. A geração do combustível ocorre pela eletrólise da água, ou seja, quando uma corrente elétrica passa pela molécula da água e a divide em oxigênio e hidrogênio, consumindo energia elétrica e produzindo o hidrogênio, que é armazenado sem resíduo poluente.
As demais iniciativas de diferentes tecnologias desenvolvidas atualmente no complexo somam pouco mais de 1 MW. Há, ainda, uma estação solarimétrica que mensura, principalmente, parâmetros de radiação solar e dados meteorológicos.