Alemanha anuncia lei para zerar emissões do setor elétrico até 2035

Tensão com a Rússia elevou planos climáticos na área de energia ao patamar de segurança nacional

O governo alemão acaba de anunciar a atualização de sua política energética e determina que até 2030, 80% da eletricidade consumida na Alemanha terá que vir de fontes renováveis e praticamente 100% a partir de 2035. Apelidada de Pacote de Páscoa (“Osterpaket”), a nova legislação ressalta ainda que “o uso de energias renováveis é de interesse público primordial e serve à segurança nacional”.

O pacote jurídico foi apresentado pelo ministro da economia Robert Habeck (Partido Verde). Os projetos de lei serão formalmente aprovados pelo parlamento dentro do atual ciclo de sessões, muito provavelmente em junho.

As novas metas para 2030 representam uma duplicação da capacidade eólica onshore da Alemanha para 115 gigawatts (GW) e uma triplicação da energia solar para 215 GW, juntamente com uma expansão da energia eólica offshore para 30 GW. De acordo com a última Revisão Global de Eletricidade do think tank Ember, as fontes de energia fóssil ainda constituíam 47% da eletricidade gerada na Alemanha em 2021, enquanto a parcela de energia renovável, composta de energia eólica e solar, era de apenas 29%.

Com a mudança, a Alemanha estará alinhada ao roteiro Net Zero-2050 da Agência Internacional de Energia, que recomenda que os países da OCDE devem atingir emissões líquidas zero em sua geração de eletricidade até 2035.

Isso também pode fazer do país o primeiro do G7 a traduzir em lei a meta de ter energia elétrica 100% limpa até 2035 – Canadá, Reino Unido e os Estados Unidos têm projetos similares. Todos eles estão muito atrás de campeões do setor, como o Uruguai, que já tem quase 100% de renováveis em sua matriz elétrica, e o Quênia, com mais de 90%.

Como líder do encontro do G7 deste ano, a Alemanha terá a oportunidade de trabalhar em prol do reconhecimento do investimento em energia limpa como um caminho sem arrependimento para a independência em relação à Rússia.

“As novas medidas de política energética e climática são urgentes não apenas por causa da guerra na Ucrânia, mas sobretudo porque devemos fazer nossa parte para combater a mudança climática global e conduzir nosso país a um futuro sustentável”, afirmou Andreas Kuhlmann, Chefe da Agência Alemã de Energia (DENA). “Os efeitos da guerra na Ucrânia são apenas um terrível desenvolvimento adicional que fez com que até o mesmo último cético se desse conta.”

“A Alemanha está entre várias economias líderes que estabeleceram metas tecnológicas ambiciosas para a descarbonização de seu setor energético. Entretanto, a transição energética não deve ser abordada de uma perspectiva puramente tecnológica”, alerta Rabia Ferroukhi, diretora do Centro de Conhecimento, Política e Finanças da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA).

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