ESG & Produção de Biogás e Biometano, desafios e potencialidades para a sustentabilidade energética

Os ODS da ONU e o conceito de ESG são duas agendas que se complementam e oferecem orientações às empresas para adotarem práticas mais sustentáveis e responsáveis

Segundo a ONU, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são 17 metas globais estabelecidas em 2015, que têm como objetivo acabar com a pobreza, proteger o planeta e garantir paz e prosperidade para todas as pessoas até 2030.

Esses objetivos ressaltam a importância de mitigar a pobreza, promover o bem-estar e a prosperidade para todos, proteger o meio ambiente e enfrentar as mudanças climáticas, estes últimos intimamente ligados à atividade de biocombustíveis como o biogás.

Também visam garantir acesso confiável, sustentável, moderno e acessível à energia, promover um crescimento econômico inclusivo e sustentável, fomentar inovação e promover a industrialização inclusiva.

Entre os ODS também estão incluídos a busca por padrões de produção e consumo sustentáveis.

Unido à importância da proteção da saúde humana e do meio ambiente, o conceito de Governança Ambiental, Social e Corporativa (ESG) está ganhando espaço em grandes empresas ao redor do mundo.

Essas corporações estão cada vez mais conscientes da necessidade da sustentabilidade nos negócios, juntamente com a conformidade legal (compliance).

Como resultado, os consumidores estão pesquisando e investindo em estruturas que demonstrem em seu portfólio, processo de fabricação, métodos de serviço, criação de novos produtos, entre outros aspectos, o compromisso com a proteção do meio ambiente e a preservação da vida para as gerações presentes e futuras.

Os ODS da ONU e o conceito de ESG são duas agendas que se complementam e oferecem orientações às empresas para adotarem práticas mais sustentáveis e responsáveis.

Um exemplo concreto dessa conciliação é o mercado de biocombustíveis, especialmente o biogás.

Nesse setor, é possível encontrar um equilíbrio entre o crescimento econômico e a proteção do meio ambiente ao mesmo tempo em que promove o bem-estar social.

Porém, mesmo com o grande volume de informações e notícias sobre o biogás e o biometano como forma de contribuir para os ODS e políticas ESG ligadas a metas de descarbonização, este recurso ainda não está presente com maior amplitude em nossa matriz energética.

Atualmente, sua participação representa apenas 2% do potencial, segundo calculado pela Associação Brasileira do Biogás (Abiogás).

Para entender os motivos por trás desta realidade, é necessário refletir sobre as barreiras relacionadas ao biogás, e mais especificamente ao biometano, desde sua origem até os resíduos orgânicos que o geram.

Todos os energéticos têm seus impactos. No caso do biogás, as variações estão associadas aos tipos de resíduos orgânicos utilizados como fonte primária, que invariavelmente iriam para a superfície como danos para a atmosfera, apresentando um impacto considerado negativo em emissões, por alguns especialistas.

Neste contexto de diferentes fontes, para explanação adotamos a classificação da Abiogás que considera o biogás como um recurso energético obtido por meio da biodigestão anaeróbica de resíduos orgânicos provenientes da indústria sucroenergética, da cadeia da proteína, da agricultura e do saneamento.

Cada projeto de aproveitamento energético de resíduos apresenta características e desafios específicos, que podem variar consideravelmente dependendo da escala e, principalmente, do tipo de resíduo.

O primeiro desafio para o desenvolvimento desse mercado reside na forma como o substrato, ou seja, a base de resíduos, é acumulado. No caso da indústria sucroenergética, destaca-se o desafio da sazonalidade.

Já na proteína animal, podemos mencionar os desafios relacionados à pulverização e à interiorização. No setor da suinocultura, é preciso atentar para o tratamento adequado dos resíduos.

Na agricultura, os desafios estão relacionados às distâncias entre as fazendas e os centros de consumo e recursos. Já no âmbito do saneamento, é importante aproveitar os demais resíduos nas estações de tratamento, enquanto no caso dos aterros, a contaminação do gás pode representar uma barreira para o desenvolvimento desse mercado.

Em todos os resíduos podemos observar os problemas relacionados a emissão, que podem ser solucionados com investimentos em equipamentos, gestão e avaliação de impactos ambientais, todos relacionados com práticas ESG.

Assim como acontece com qualquer tecnologia desenvolvida, há um período de aprimoramento necessário para que seu uso seja controlado, escalável e com preços competitivos e, no caso da produção e atualização do Biogás para Biometano, não é diferente.

Neste sentido, podemos lembrar que, em um passado recente, houve um grande aproveitamento do biogás para geração de energia, porém o entendimento sobre a melhor forma de tratamento ainda estava em estágios iniciais ou em desenvolvimento para a realidade brasileira, especialmente no setor do Agronegócio.

Danos aos motores e a utilização inadequada dos recursos acabaram retardando a chegada desse recurso energético renovável, mesmo com seu grande potencial.

No entanto, a adoção de soluções que permitam o desenvolvimento em escala cooperativa, a utilização de tecnologias avançadas e acessíveis para os produtores, juntamente com o avanço da eficiência na produção e conversão dos equipamentos, está em andamento.

Acreditamos que este seja o momento ideal para o aproveitamento real do biogás superando os desafios relacionados à produção, tratamento, qualidade e distribuição desses combustíveis.

Além disso, é necessário investir em tecnologias inovadoras que possam otimizar o aproveitamento energético dos resíduos orgânicos e facilitar a integração do biogás e do biometano na matriz energética brasileira.

Ainda no campo das tecnologias, é esperado que o setor de biogás aproveite o momento favorável de desenvolvimento tecnológico.

Podemos observar a evolução das ferramentas tecnológicas em diversos setores da sociedade, como Learn Machine, I.A, Blockchain, IoT, nanotecnologia, armazenamento de dados e eficiência energética dos equipamentos.

Essas inovações estão alinhadas com a necessidade biológica dos seres humanos em relação ao conforto, qualidade do ar, disponibilidade de alimentos saudáveis, comunicação, mobilidade e interação social.

A chamada “Indústria 4.0 dos Gases de baixa emissão” busca a fusão de tecnologias que aproximam o mundo físico, biológico e digital, tendo o biogás e o biometano como cenário para esses avanços.

No contexto do biometano, é importante considerar a inclusão dos regulamentos de qualidade nos padrões normativos como barreias a serem superadas com tecnologia.

Esses regulamentos demandam uma atenção adicional ao tratamento, visando minimizar os impactos negativos ao meio ambiente e garantir a segurança dos profissionais responsáveis pela operação e manutenção dos sistemas mecânicos.

No Brasil, os padrões normativos para o biometano são regulamentados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

A Agência estabelece as regras para a aprovação do controle de qualidade e a especificação do biometano proveniente de diferentes fontes, como aterros sanitários, estações de tratamento de esgoto, resíduos agrossilvopastoris e comerciais.

Os métodos de purificação do biogás podem variar em termos de complexidade e eficiência, dependendo da origem e composição do biogás, bem como da aplicação desejada para o biometano.

Alguns dos métodos mais comuns incluem absorção química, absorção física, permeação por membranas e criogenia.

Cada fonte de resíduos orgânicos apresenta características específicas que requerem soluções adequadas para a produção e aproveitamento do biogás e todos os seus benefícios relacionados as práticas ESG.

Além dos aspectos técnicos, também há considerações regulatórias, econômicas e sociais que impactam a viabilidade dos projetos de biometano.

Por exemplo, a ausência de uma política nacional de incentivo ao biometano, a competição com outras fontes de energia, a necessidade de investimentos em infraestrutura e logística, a baixa conscientização ambiental tanto da população quanto dos gestores públicos, e outros fatores.

Essas questões podem limitar o potencial do biometano como uma opção sustentável para a matriz energética do Brasil.

Para uma nova discussão podemos incluir as expectativas de valorização do atributo ambiental como fator de viabilização dos projetos intimamente ligados as metas de descarbonização assumidas pelas empresas e governos.

Portanto, podemos concluir que a pauta ESG é relevante para cada projeto de produção e aproveitamento do biogás e do biometano, pois envolve desafios específicos relacionados ao tipo, à quantidade, ao impacto e à localização dos resíduos orgânicos, bem como aos valores e às práticas sustentáveis e responsáveis dos envolvidos.

O biogás e o biometano são fontes de energia renovável que podem trazer benefícios para o Brasil e para o mundo, se forem produzidos e usados de forma adequada.

Eles também contribuem para o cumprimento dos ODS da ONU e as prática ESG, que são importantes para a saúde global e o desenvolvimento social e ambiental do nosso planeta.

Referência:

https://biogasebiometano.com.br

https://energiaebiogas.com.br/seminario-tecnico-abiogas-2023

https://abiogas.org.br/

Rosa, G., Almeida, E. (2022). As Redes de gás e a transição energética: o que esperar para o futuro?. Ensaio Energético, 24 de outubro, 2022. Disponível em  https://ensaioenergetico.com.br/as-redes-de-gas-e-a-transicao-energetica-o-que-esperar-para-o-futuro/

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