Mercado livre de olho no longo prazo

Comercializadoras de energia já trabalham anos de 2026 e 2028

O ano de 2026 já começou nas comercializadoras que atuam no Ambiente de Contratação Livre (ACL). Para algumas, 2028 também. O Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), próximo ao piso e a queda da volatilidade do curto prazo, levaram o mercado de comercialização a olhar atento ao longo prazo no movimento.

Em 2022, 52% das operações realizadas no Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia (BBCE), infraestrutura para negócios com energia, foram com produtos pensados a partir de 2023. Os contratos tiveram prazos para entrega até 2028, um alongamento de vencimentos inédito na plataforma da companhia. Esse movimento trouxe contratos com maior volume energético e menor volume financeiro. Com isso, na comparação com 2021, a alta do tíquete médio foi de 81%.

A Curva Foward, metodologia da BBCE, aponta preços até três anos para frente e nos permite verificar a volatilidade da energia convencional do Sudeste e a incentivada no longo prazo. Essa é uma referência de preços com base em negócios reais e em uma das ferramentas de gestão e análise de risco mais utilizadas pelo Ambiente de Contratação Livre (ACL). Observando o gráfico a seguir somado os elevados volumes para o longo prazo, podemos conferir que esse movimento de alongamento pode seguir a tendência no primeiro trimestre.

Movimentos de janeiro

Ao todo, em janeiro foram negociados na BBCE 30,8 mil GWh, que representa uma alta de 75,4% em comparação com dezembro, e 32,1% foram negociados no mesmo período do ano anterior. O volume, que é recorde histórico mensal, foi dividido em apenas 2.018 operações, queda de 60,8% em comparação a janeiro de 2022.

O volume financeiro também foi menor e teve retração de 19,4% em relação ao mesmo mês de 2022 e é 70,6% superior a dezembro. Com mais volume em menos negócios, o tíquete médio dos contratos teve alta de 233,33% no comparativo com janeiro do ano passado.

De todo volume operado em janeiro, 56% tem contratos além de 2024. O ativo mais negociado no mês foi a energia convencional sudeste para o ano de 2024, que representou 18% do volume.

A tendência vai na contramão do que tradicionalmente ocorria até o primeiro semestre do ano passado, quando preponderavam as operações mensais e com vencimento para os meses subsequentes.

Autor: Marcelo Bianchini – Especialista de Produtos BBCE

Esse comportamento reflete a visão de futuro das comercializadoras de energia na construção de resultados de longo prazo. Ressaltando que, nesse mercado, é necessário possuir crédito aprovado pelas contrapartes para realizar operações num horizonte tão distante do ano vigente.

Algumas empresas menores e outras que iniciaram suas atividades no ano passado, estão direcionando os seus esforços para prospectar e migrar consumidores, vislumbrando a tão esperada abertura de mercado em uma primeira etapa para o grupo de alta tensão, cuja expectativa é converter cerca de 56% dos potenciais clientes elegíveis, segundo pesquisa divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Estima-se que 106 mil clientes passarão a ter a possibilidade de escolher a empresa para contratar a sua energia, a partir de janeiro de 2024.

É um mercado que gerou uma economia de R$41 bilhões de economia na conta de luz dos consumidores em 2022 e já sinaliza condições favoráveis para estabelecer novos recordes, de acordo com dados publicados pela Associação Brasileira de Comercialização de Energia Elétrica (Abraceel).

Economia decorrente de um consumo médio mensal de 24.503 MW médios, volume inédito no histórico de demanda pelos consumidores livres.

Abrangendo esse grau de consumo em 2022, o mercado livre de energia já resultou em ganhos acumulados de R$ 339 bilhões aos consumidores que integram o ambiente de contratação livre, onde os preços para contratação de energia foram, em média, 49% menores no ano passado em relação ao preço médio praticado no mercado regulado, que ainda não proporciona essa oportunidade de escolha.

Essa economia foi refletida no Economizômetro, uma calculadora digital da Abraceel, que registra os dados e fornece os resultados gerados pela concorrência e pelo direito de escolher o fornecedor de energia elétrica – um privilégio restrito a cerca de 31 mil unidades consumidoras, o equivalente a 0,03% das 89 milhões que totalizam os pontos de consumo do país. Cada unidade consumidora equivale a um medidor de energia.

Segundo a Abraceel, os recursos economizados deverão começar a aumentar a partir de 2024, pois todos os consumidores de energia em alta tensão poderão escolher o próprio fornecedor. Esse grupo é formado por 106 mil consumidores, com faturas mensais acima de R$ 10 mil.

“Esses consumidores serão disputados por dezenas de empresas que vão competir pela conta de energia deles, oferecendo não somente preços mais baixos, mas serviços associados à gestão de energia para aumentar a flexibilidade e a produtividade das operações desses clientes”, explicou Rodrigo Ferreira, presidente-executivo da Abraceel.

Para a Associação, a abertura completa do mercado de energia elétrica no Brasil é uma reforma microeconômica que está atrasada em quase 20 anos e deveria ser encarada como política pública para reduzir de forma estrutural os preços da energia elétrica no país, inclusive para a população de baixa renda.

“Quando a legislação efetivar o direito para todos os consumidores de energia escolherem o fornecedor e poderem migrar para o mercado livre, isso causará um choque de eficiência na atividade econômica similar ao que ocorreu quando a telefonia se tornou acessível a todos”, explicou.

A abertura será mais uma alternativa de acesso a energia renovável e mais barata. Como já ocorre em dezenas de países como, por exemplo, Austrália, Inglaterra, Japão e Portugal.

Inclusive, a população portuguesa conta com uma plataforma chamada “Compara Já” que realiza de forma prática o comparativo de preços para contratação de energia, gás, seguro, crédito pessoal e outros serviços. A evolução energética é um caminho natural para o desenvolvimento dos países e acredito que ainda nessa década teremos muitas novidades pela frente.

** Artigo escrito por Silla Motta, CEO da Donna Lamparina

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