No dia 8 de março de 1917, milhares de mulheres russas se reuniram em uma passeata pedindo direitos para o gênero feminino, bem como o fim da Primeira Guerra Mundial e do desemprego.
Assim, nos anos seguintes, o Dia das Mulheres continuou a ser celebrado naquela data na Rússia e demais países do bloco soviético.
Décadas mais tarde, a luta feminista seguiu ativa, cada vez mais forte e presente: o direito ao voto se consolidou, as leis cresceram e se adequaram, assim como a sociedade como um todo.
Mas foi só em 1975, no entanto, que a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu a data como uma celebração dos direitos do gênero feminino e estabeleceu, então, que o dia 8 de março seria o Dia Internacional das Mulheres.
Atualmente, o evento é comemorado por mais de 100 países como um momento dedicado à luta pela igualdade de gênero, para celebrar as conquistas, cobrar direitos e relembrar as mulheres que foram vítimas de violência.
O Fórum Econômico Mundial, organização sem fins lucrativos que realiza encontros anuais em Davos (Suíça) que reúnem empresários e líderes de todo o mundo, elabora desde 2006 um indicador que procura agregar essas diferentes dimensões da desigualdade de gênero.
O Global Gender Gap Report (“relatório global de desigualdade de gênero”, em tradução livre) tem quatro pilares — saúde e sobrevivência, grau de instrução, participação econômica e oportunidades, empoderamento político —, cada um deles com uma série de indicadores.
O score vai de zero a 1 — quanto mais perto de 1, mais próximo está o país de atingir a igualdade de gênero.
O Brasil está mal posicionado no ranking. Na edição de 2022, ganhou o 94º lugar entre 146 nações, e vem piorando sua colocação desde 2020, quando ocupava o 92º lugar.
Nesses três anos, o país chegou a conseguir melhorar marginalmente sua nota, de 0,691 para 0,696. Outros países, contudo, tiveram um crescimento mais significativo e acabaram ganhando posições.
O país que está mais próximo de acabar com a desigualdade de gênero é a Islândia, que ocupa o topo da lista do Global Gender Gap Report, com escore de 0,908, e é seguida pela Finlândia (0,860) e Noruega (0,845). Também estão no top 10 Ruanda (6º lugar, 0,811) e Nicarágua (7º, 0,810).
Das 16 empresas brasileiras incluídas no Índice de Igualdade de Gênero de 2023 da Bloomberg (GEI, na sigla em inglês), cinco atuam no setor de energia. O índice global avalia as práticas de inclusão e igualdade de oportunidades de trabalho entre homens e mulheres.
Se comparado ao total de companhias avaliadas pela pesquisa, o percentual brasileiro ainda é sucinto. Do setor energético, apenas as empresas Braskem, Eletrobras, Cosan, ISA CTEEP e Comgás foram qualificadas para a lista.
Estreante no índice global, a ISA CTEEP desenvolve uma série de iniciativas para priorizar e assegurar a promoção de mulheres no ambiente profissional.
Cosan e Comgás foram listadas pela terceira vez, trabalhando diariamente para garantir um ambiente de trabalho diverso e inclusivo, onde todos se sintam à vontade para serem suas melhores versões.
A Cosan vem transformando o local de trabalho de forma a torná-lo ainda mais seguro, diverso, igualitário e inclusivo. Numa jornada que exige esforço e foco de todos os níveis da organização mudando suas políticas e buscando ser uma empresa cada vez mais inclusiva e igualitária.
No setor de energia global, a ocupação de cargos por mulheres ainda está abaixo da média econômica geral.
Embora os empregos no setor tenham aumentado 1,3 milhão em 2021, em relação a 2019, apenas 16% das vagas em setores tradicionais são ocupadas por mulheres. Os dados são da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês). Na economia em geral, elas representam 39% do emprego global.
De acordo com a IEA, as mulheres são mais propensas a deixar empresas de energia para empregos fora do ramo, já que a diferença salarial entre homens e mulheres no setor energético é maior do que em qualquer outra área, quase 20% inferior.
Com a tendência mundial de crescimento de empregos nas indústrias de energias renováveis, o setor pode desfrutar de uma maior inserção feminina nos próximos anos.
As mudanças estruturais no mercado de trabalho, todavia, caminham a passos lentos. Dados da Agência Internacional de Energias Renováveis (Irena, em inglês) revelam que apenas 32% dos cargos são ocupados por mulheres nesse ramo, que é predominantemente masculino.
Segundo o relatório divulgado no ano passado, o Brasil responde por 10% da geração global de empregos verdes. O país fica atrás apenas da China, que representa 42% do total. A expectativa é que 43 milhões de novos postos de trabalho sejam gerados até 2050 em todo o mundo.
O cenário de desenvolvimento traz previsão de maior empregabilidade na área de energia limpa. Resta saber se os investimentos vão transformar a realidade e garantir uma inclusão feminina expressiva nas indústrias.
Algumas medidas estão sendo tomadas para garantir mais diversidade dentro do setor, como já acontece em empresas do segmento solar. Na distribuidora de equipamentos fotovoltaicos WIN Solar, por exemplo, as mulheres representam quase 60% de todo o quadro de colaboradores e 20% delas ocupam cargos de liderança.
A disposição no quadro de funcionários repercute em resultados práticos nos negócios da companhia. Somente no último ano, a empresa registrou aumento de 80% no faturamento em relação ao exercício anterior, com 160 megawatts (MW) comercializados em kits solares, um resultado acima da média do mercado fotovoltaico brasileiro.
Já a fabricante de baterias Unicoba está atrelando suas metas ESG (sigla em inglês para ambiental, social e de governança) à equidade de gênero. Dos 670 colaboradores, 52% são mulheres, com 36% dos cargos de gestão ocupados por elas.
De acordo com a Irena, a participação feminina em cargos da indústria solar é de 40%; com cerca de 47% da força de trabalho na fabricação de equipamentos e aproximadamente 39% no fornecimento de serviços. O percentual mais baixo, entretanto, é na instalação da infraestrutura fotovoltaica, com 12% de presença feminina.
O país possui diversas iniciativas engajadas na busca dessa tão sonhada igualdade de gênero, presente no ODS 5 (Objetivo de Desenvolvimento Sustentável) do Pacto Global da ONU. Dentre elas, podemos destacar?: “Sim, Elas Existem”, iniciativa colaborativa, apartidária e voluntária criada por Agnes M. da Costa e Renata Beckert Isfer em 2018, inspiradas pelas lições aprendidas no programa “Women and Power: Leadership in a New World”, da Harvard Kennedy School of Government.
Seu objetivo é pautar o discurso sobre diversidade e inclusão de gênero no setor de energia de forma positiva, exaltando as contribuições valiosas das competentes profissionais desses setores historicamente de predominância masculina.
A Ação Coletiva Interligadas, por outro lado, é um chamado para que empresas, escolas, instituições e profissionais assumam compromissos voluntários pela equidade de gênero na área de Energias Renováveis.
A Interligadas é uma iniciativa da Rede de Mulheres na Energia Solar (MESol) e do Projeto Profissionais do Futuro, realizado pelo Ministério da Educação (MEC) e pela Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento Sustentável, por meio da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH.
Mas, mais importante do que que dar início a esta ação, é conquistar parceiros e apoiadores pela causa que ela promove.
O meu desejo é que mais mulheres possam ingressar, se desenvolver e alcançar os mesmos direitos trabalhistas que os homens, sem que para isso tenham que promover uma nova marcha. Muita energia boa para todos nós.