A importância das mulheres na transição energética

Nos últimos anos, o setor energético começou a dar seus primeiros passos ao reconhecer a disparidade entre mulheres e homens que integram sua força de trabalho.

Durante o mês das mulheres, diversas organizações do setor promovem mulheres que trabalham em suas equipes, especialmente aquelas em cargos de liderança.

Contudo, a representatividade feminina nesses cargos ainda é limitada, representando apenas 11% em empresas de energia. Em termos globais, mulheres ocupam apenas 20% das posições de liderança em empresas de energia.

Um estudo da S&P realizado em 20 países, mostrou que a média global era de ~9% em 2019. O Brasil estava em oitavo lugar, com representação de 11% – pouco acima da média global.

Uma das justificativas usadas por empresas para justificar o número baixo de mulheres em cargos de liderança é que não existem opções suficientes nos níveis logo abaixo de posições executivas para que sejam promovidas.

Esse argumento demonstra a urgência de empresas adotarem o quanto antes medidas para atrair mulheres para o setor energético, bem como políticas inclusivas que garantam sua retenção e promoção no setor.

As publicações da S&P When Women Lead, Firms Win e da McKinsey Diversity Wins, constatam a importância da diversidade e participação de mulheres na liderança de empresas, tornando-as mais lucrativas e inovadoras.

A Fundação Lemann também reforçou esses pontos no estudo Equidade e Representatividade, afirmando que:

A participação mais equitativa de mulheres em posições de liderança nas empresas contribui para:

  1. a melhora no processo de tomada de decisão e aumento da criatividade, o que resulta em um desempenho financeiro mais elevado;
  2. impactos positivos na dinâmica da equipe, comunicação e colaboração;
  3. a adoção de práticas de negócios que beneficiam a sociedade e o meio ambiente.

A ausência de liderança feminina e participação em todos os níveis do setor energético é uma barreira prevalecente que requer mais atenção para alcançarmos uma transição energética justa.

Esse é um desafio presente no mundo todo, considerando que apenas 32% da força de trabalho em energias renováveis é composta por mulheres.

Apesar destas distorções, as mulheres não são apenas relevantes para uma transição justa como trabalhadoras no setor energético, mas também como consumidoras de energia.

Muitas vezes, as mulheres desempenham o papel de chefes de domicílios e são responsáveis por decisões relacionadas ao consumo energético.

Isso implica que, na esfera privada ou residencial, elas são as principais tomadoras de decisões, escolhendo o tipo de energia a ser utilizado, determinando a quantidade de eletrodomésticos e aparelhos necessários, e sendo responsáveis pelo pagamento das contas elétricas.

Essa influência destaca a importância do papel das mulheres não apenas nas dinâmicas familiares, mas também nas escolhas e gestão eficiente dos recursos energéticos domésticos.

Além disso, existe uma relação direta entre energia e desenvolvimento. O acesso à energia é chave para a produtividade econômica, além de promover impactos sociais associados à educação, saúde, qualidade de vida e igualdade de gênero.

O objetivo de desenvolvimento sustentável 7 das Nações Unidas diz respeito ao acesso universal a energia limpa, moderna e sustentável, tendo como princípio fundamental de “não deixar ninguém para traz”.

Portanto, é necessário que o Brasil, ao pensar em uma estratégia de transição energética justa, deva avaliar a importância das mulheres na cadeia de valor da energia.

Pelas mulheres estarem historicamente associadas a tarefas domésticas, a ausência de serviços energéticos as impacta mais profundamente.

Cozinhar com combustíveis encontrados na natureza, como a lenha ou restos de materiais orgânicos, além de ser perigoso, é prejudicial a sua saúde.

A ausência de uma geladeira resulta em sua perda de tempo produtivo devido a compras diárias, às vezes realizadas sem iluminação pública, o que compromete ainda mais sua segurança.

Nas cidades mais quentes, o ar-condicionado ou ventilador pode ser objeto de extremo valor para condução de atividades domésticas sem prejuízo ao seu bem-estar.

As energias renováveis apresentam uma oportunidade única para a integração igualitária de mulheres, com maiores oportunidades e eficiências econômicas no Brasil. A transição energética justa associada aos indicadores do ODS 7 devem ser centrais para o planejamento energético brasileiro.

Nosso Plano Nacional de Energia (PNE 2050) não menciona igualde de gênero no setor energético brasileiro, e tampouco se refleto no Plano de Transição Justa dentro dos sete eixos apresentados.

Falta uma visão integrada de gênero nos principais planos e programas do governo, pois esses são capazes de mobilizar o setor privado, considerando que ambos precisam apoiar mais mulheres em todos os níveis, e principalmente em cargos de liderança.

É imprescindível que para a formulação de políticas públicas igualitárias, dados sobre gênero sejam mapeados e analisados.

A participação de mulheres no mercado de trabalho de energia e posições de tomada de decisão produzem um impacto muito positivo na direção desses objetivos.

Tanto o setor público como o privado devem, neste mês de março, refletir sobre o papel das mulheres como lideranças na área de energia.

Que essa reflexão seja também interseccional, ou seja, se as disparidades existem para mulheres brasileiras, elas são ainda mais acentuadas para aquelas que enfrentam outras formas de desigualdade, como raça, renda, deficiências, orientação sexual, entre outras.

Teremos uma transição justa somente quando a formulação das nossas políticas sejam a partir de princípios igualitários.

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